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Todo ano, Islandeses atiram filhotes de pássaros dos penhascos. E isso está salvando essa espécie da extinção

É a época mais esperada do ano por dezenas de islandeses

Passaros
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A cena se repete todo ano na costa sul da Islândia entre os meses de agosto e setembro. É a temporada dos puffins, ou papagaios-do-mar, uma criaturinha adorável com o bico vermelho alaranjado, olhos de nenê e plumas brancas e negras. Nessa época do ano, os filhotes (também chamados de pufflings) ficam prontos para deixar os ninhos. E então, dezenas de humanos aparecem para lançá-los por um penhasco na escuridão. Mas calma, os islandeses não ficaram loucos!

Cerca de seis semanas após a eclosão dos ovos, um papagaio-do-mar, que durante todo esse tempo esteve seguro em uma toca construída por seus pais em penhascos perto do oceano, fica, aparentemente, pronto para deixar o ninho e se dirigir ao mar aberto. Para isso, a ave usa a luz noturna da lua como guia.

No entanto, devido em parte à poluição luminosa das cidades próximas, muitos deles podem se desorientar. Em vez de se dirigirem ao mar para pescar e se fortalecer, acabam indo para o interior do continente, onde correm o risco de morrer. E é aí que entram os humanos.

Resgatando o papagaio-do-mar

Pode-se dizer que a mudança climática e as comodidades da sociedade moderna, assim como as luzes das cidades, estão ameaçando a sobrevivência dessas aves. Por isso, quando os filhotes mais vulneráveis se distraem e são tentados a ir para o interior por acidente, alguns humanos os ajudam, cercando-os e jogando os filhotes de volta ao mar em nome da conservação. Os biólogos, por incrível que pareça, aprovam a iniciativa.

Com isso, virou tradição que a temporada dos papagaios-do-mar tenha essa prática. Os empolgados habitantes locais, acompanhados cada vez mais por turistas e visitantes, se reúnem armados com luvas e caixas, saindo às ruas durante a noite no final do verão para caçar e resgatar os filhotes perdidos e escoltá-los de volta ao mar.

A ação é realizada, principalmente, de duas formas. A primeira: colocando os bichos na borda de um penhasco e esperando que comecem a voar. A segunda, e mais viral nos últimos anos, é lançá-los ao ar suavemente, com um movimento de baixo para cima, de modo a estimular o primeiro voo.

Embora ocorra em vários locais da costa, o lançamento dos papagaios-do-mar acontece principalmente em Vestmannaeyjar (Ilhas Westman), onde os animais nidificam em grande número. É a maior colônia de papagaios-do-mar que se pode encontrar na Europa, com os pássaros adultos estabelecendo ninhos ao longo do penhasco para manter suas crias seguras.

Na cidade, já existem até equipes de resgate estabelecidas, além de famílias comuns que intervêm a cada ano para ajudar quando aquele primeiro voo inaugural sai errado. Esses grupos chegam a resgatar até 10 papagaios-do-mar por noite durante o ápice da temporada, e é uma corrida contra o tempo para alcançá-los antes que fiquem presos ou se afastem demais. Até o porto foi equipado com redes para capturar qualquer pouso malsucedido na água, já que o óleo ali pode danificar as penas dos bichos e fazê-los se afogar.

Não é só sair jogando

Como explica Erpur Snær Hansen, diretor de pesquisa ecológica no Centro de Natureza do Sul da Islândia, ao site Popular Science, o ideal é que aqueles que encontram um papagaio-do-mar o pesem primeiro e depois o reportem no site lundi.is. Dessa forma, a organização pode manter um registro de quantos pássaros "rebeldes" há a cada temporada.

O especialista também explica que, embora os papagaios-do-mar não estejam em perigo de extinção, a população média na Islândia diminuiu em 70% nos últimos 30 anos. Além da poluição luminosa, “o que está reduzindo mais drasticamente as quantidades de papagaios-do-mar são as temperaturas crescentes da superfície do mar”, destaca Hansen. As pesquisas sugerem que a temperatura marítima realmente tem grande efeito sobre as populações saudáveis da espécie. Quando ela sobe, as quantidades de papagaios-do-mar diminuem.

A correlação, acredita-se, é que as temperaturas mais quentes resultem em menos peixes, especialmente o lançón, que é a principal fonte de alimento dos papagaios-do-mar. E a falta de comida para os indivíduos adultos significa que não haverá filhotes. Além disso, esses bichos só colocam um ovo por ano, e apenas na faixa entre 3 e 6 anos de idade. Essa raridade, combinada à falta de alimento, aos tempos de eclosão mais tardios e à caça legal das aves, forma um caldeirão de fatores que ameaça a população.

Esse texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagem | Godfon

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