Sem dúvida, a natureza sempre reserva surpresas. Por exemplo, há casos como o de jacarés que vivem em uma usina nuclear — ou como o que vamos abordar agora: o de um golfinho que vagava de forma incomum pelas costas da Dinamarca.
Para entender o motivo de seu comportamento, os pesquisadores decidiram equipá-lo com um microfone, a fim de esclarecer algumas dúvidas.
“Delle” é o nome do golfinho em questão
Ele foi encontrado no canal Svendborgsund, na costa da Dinamarca, um ambiente pouco comum para a espécie. Com 17 anos, costumava nadar sozinho — algo raro para um animal altamente social que, normalmente, vive em bandos.
Durante três meses, entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, um grupo de pesquisadores da Universidade do Sul da Dinamarca se dedicou a estudar esse golfinho solitário em seu habitat natural.
Para isso, eles instalaram um microfone no animal e registraram 10.833 sons emitidos por ele. Desses, 2.239 eram assobios, 5.487 foram tons de baixa frequência, 767 corresponderam a sons de percussão e 2.288 consistiram em pulsos rápidos — estes últimos, geralmente associados a comportamentos agressivos entre golfinhos quando estão em grupo.
No caso de Delle, os pesquisadores sugeriram que esses sons poderiam ter um significado mais profundo.
A análise indicou que talvez fossem uma forma de diálogo interno, refletindo a necessidade de interação social do animal após anos de isolamento nas águas.

Segundo a equipe, acredita-se que os sons possam ser sinais emocionais involuntários — ou seja, tentativas de comunicação interna ou um subproduto de seus instintos naturais.
Apesar de nem tudo estar completamente claro, a persistência e a variedade desses sons destacam a importância da interação social na espécie.
As gravações revelaram que Delle havia desenvolvido três assobios únicos, que, em um grupo, normalmente funcionam como uma espécie de “nome” usado para identificação entre os golfinhos. No entanto, os golfinhos costumam usar apenas um desses assobios com regularidade. Mesmo estando sozinho e sem estímulos externos, o animal continuou emitindo sons complexos.
A origem dos sons
Diante desse comportamento, os pesquisadores começaram a se perguntar quais seriam as razões por trás de suas vocalizações. A princípio, cogitou-se que Delle estivesse tentando se comunicar com humanos próximos ou atrair outros golfinhos. No entanto, ambas as hipóteses foram descartadas após a confirmação de seu estado de isolamento e da constância das vocalizações mesmo na ausência de estímulos.

Os cientistas acreditam que o golfinho vocalizava de forma involuntária, possivelmente como uma resposta emocional — semelhante a quando os seres humanos riem ao se lembrar de algo engraçado.
Isso nunca havia sido observado em golfinhos. Outra possibilidade é que Delle estivesse conversando consigo mesmo, um comportamento que, entre humanos, pode ocorrer após longos períodos de isolamento.
Por enquanto, esse fenômeno ainda não é completamente compreendido, nem em humanos nem em animais. Como é a primeira vez que é detectado em um golfinho, não há precedentes que sirvam como referência.
Outras tentativas de entender seu comportamento
Outro ponto analisado foi o motivo de o animal estar sozinho no Mar Báltico. Entre as hipóteses levantadas, considera-se que ele pode ter sido rejeitado por seu grupo ou simplesmente se desviado de sua rota original. No entanto, a causa exata ainda permanece um mistério.

O que os pesquisadores conseguiram descartar é que as vocalizações de Delle sejam uma tentativa de atrair outros golfinhos. Na verdade, elas parecem mais uma forma de entretenimento ou uma estratégia para lidar com o isolamento.
Embora esse caso represente uma oportunidade valiosa para entender melhor como os golfinhos lidam com a solidão, os especialistas alertam que não se deve comparar esse comportamento ao dos seres humanos.
Ainda não se sabe se Delle está rindo, gritando ou apenas processando sua situação da forma que lhe é possível.
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