A Coreia do Norte dissipou qualquer dúvida sobre sua aliança com a Rússia: acaba de anunciar seu primeiro submarino nuclear.

O anúncio deixa claro que a Coreia do Norte continua sua corrida armamentista e busca fortalecer sua capacidade nuclear.

Coreia do Norte e submarino nuclear. Imagem: Korean Central News
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Rússia e Coreia do Norte vêm estreitando laços há cerca de um ano, trocando uma série de "presentes" estratégicos. Tudo começou em abril de 2024, quando Kim Jong-un apareceu em uma limusine blindada enviada diretamente de Moscou. Desde então, os pacotes entre os dois países não pararam: tigres, ursos, petróleo, mísseis, soldados… e, sem uma confirmação oficial do Kremlin, tudo indica que os temores dos Estados Unidos e de seus aliados sobre a “nuclearização” da Coreia do Norte com ajuda russa estão se concretizando. Há até imagens do mais novo “brinquedo” da aliança.

O primeiro submarino nuclear

A Coreia do Norte confirmou que está construindo seu primeiro submarino nuclear, um projeto que tem como objetivo reforçar sua capacidade de ataque com armas atômicas.

Em um relatório publicado no fim de semana pela agência estatal KCNA (Korean Central News Agency), fotos mostraram Kim Jong-un inspecionando uma parte do que parece ser o novo submarino – significativamente maior do que os modelos que o país possui atualmente.

Sem dúvidas, esse anúncio surge em um momento de crescente preocupação internacional, especialmente para os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Ambas as nações temem que a Rússia esteja fornecendo suporte tecnológico para que a Coreia do Norte modernize suas forças militares. Em troca, Pyongyang estaria enviando tropas e armamento convencional para apoiar a guerra russa na Ucrânia.

O contexto do projeto

O que se sabe oficialmente é que, durante uma visita a um estaleiro naval não identificado, Kim Jong-un recebeu um relatório sobre o progresso da construção do "submarino estratégico de mísseis guiados de propulsão nuclear".

A mídia estatal norte-coreana também divulgou imagens mostrando o casco da embarcação em desenvolvimento, sendo esta a primeira vez que o país apresenta evidências visuais de um submarino nuclear em construção.

Atualmente, a Coreia do Norte possui dezenas de submarinos da era soviética, todos movidos a diesel e eletricidade. Isso significa que essas embarcações precisam emergir regularmente para recarregar suas baterias, o que limita sua autonomia e capacidade de operar de forma furtiva em missões de longa distância.

Um submarino de propulsão nuclear, no entanto, seria um divisor de águas para Pyongyang, permitindo operações encobertas em águas distantes e aumentando sua capacidade de se aproximar de alvos estratégicos sem ser detectado. Em um cenário extremo, ele poderia até lançar mísseis nucleares de locais inesperados, tornando qualquer resposta antecipada mais difícil.

Possíveis características

De acordo com Moon Keun-sik, especialista em submarinos e professor da Universidade Hanyang, em Seul, o submarino pode pertencer à classe de 6.000 a 7.000 toneladas e ter capacidade para transportar até 10 mísseis.

A menção a "mísseis estratégicos guiados" no relatório sugere que a embarcação estaria projetada para portar armas nucleares, o que aumentaria significativamente o poder ofensivo da Coreia do Norte.

Se esse projeto for concluído, Pyongyang poderá lançar mísseis a partir de uma plataforma submersa, dificultando a detecção antecipada de seus ataques por parte de adversários como os Estados Unidos e a Coreia do Sul.

O Conselho de Segurança Nacional dos EUA, por meio de seu porta-voz Brian Hughes, declarou estar ciente das alegações da Coreia do Norte, mas não forneceu mais detalhes sobre o assunto. "Os Estados Unidos continuam comprometidos com a completa desnuclearização da Coreia do Norte", reiterou Hughes.

Os desejos de Kim

Como já mencionamos, desde 2021 Kim Jong-un identificou a construção de um submarino nuclear como uma das prioridades de sua política de defesa. No entanto, até recentemente, analistas apontavam que a Coreia do Norte não possuía capacidade técnica e de engenharia para desenvolver um reator nuclear compacto capaz de impulsionar um submarino.

Naquele ano, o líder norte-coreano apresentou uma verdadeira "lista de desejos" militares, que incluía mísseis balísticos intercontinentais de combustível sólido, armas hipersônicas, satélites espiões, mísseis com múltiplas ogivas nucleares e, finalmente, submarinos de propulsão nuclear. O que mudou desde então? Moscou.

A influência da Rússia

Com o fortalecimento da cooperação militar entre Pyongyang e Moscou, cresce a possibilidade de que a Rússia esteja fornecendo assistência tecnológica à Coreia do Norte em troca de milhares de soldados e grandes estoques de munição que o regime norte-coreano enviou para apoiar a invasão russa na Ucrânia.

Segundo Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos Norte-Coreanos em Seul, esse intercâmbio estratégico pode acelerar significativamente o desenvolvimento do submarino nuclear norte-coreano.

O especialista em submarinos Moon Keun-sik acredita que a Rússia pode estar auxiliando na construção de um reator nuclear compacto, essencial para a propulsão do submarino.

Ele ainda estima que, caso a Coreia do Norte consiga concluir o projeto, os primeiros testes da embarcação poderiam ocorrer dentro de um ou dois anos, antes de sua entrada em operação.

O precedente de 2023 e as dúvidas

O anúncio desse novo submarino acontece após a Coreia do Norte ter apresentado, em 2023, seu primeiro "submarino de ataque tático nuclear", um modelo supostamente modificado a partir de um antigo submarino diesel-elétrico da era soviética, adaptado para lançar mísseis nucleares.

O problema? O exército sul-coreano demonstrou ceticismo sobre a viabilidade da embarcação, apontando que o design parecia defeituoso e pouco funcional. Até o momento, não há evidências de que a Coreia do Norte tenha conseguido lançar mísseis a partir dessa plataforma.

Por outro lado, o novo submarino anunciado parece ser maior do que o modelo de 2023, segundo especialistas, e recebe a classificação de "submarino estratégico de mísseis guiados de propulsão nuclear".

Isso sugere que ele poderia ser projetado para lançar tanto mísseis balísticos nucleares quanto mísseis de cruzeiro, ampliando significativamente o poder ofensivo da Coreia do Norte.

Implicações estratégicas e o perigo

Se a Coreia do Norte conseguir desenvolver um submarino nuclear operacional, isso alteraria significativamente o equilíbrio militar na região. A capacidade de Pyongyang para realizar ataques surpresa aumentaria consideravelmente, ao mesmo tempo em que suas plataformas de lançamento se tornariam mais difíceis de detectar.

Além disso, a crescente cooperação militar entre Rússia e Coreia do Norte preocupa seriamente os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão, que podem enfrentar uma ameaça mais sofisticada e difícil de conter nos próximos anos.

Embora ainda existam dúvidas sobre a capacidade real da Coreia do Norte de concluir um projeto tão complexo sem apoio externo, a aliança com Moscou indica que o regime de Kim Jong-un pode estar mais próximo do que nunca de obter essa arma estratégica.

Se bem-sucedido, esse avanço fortaleceria seu poder de dissuasão e aumentaria sua influência geopolítica, tornando suas ameaças ainda mais difíceis de ignorar.

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