Na última semana, a empresa franco-britânica Eutelsat viu suas ações dispararem após especulações de que poderia substituir a Starlink como fornecedora oficial de internet para a Ucrânia. A notícia ganhou força na Europa, mas, na prática, parecia mais uma aposta otimista do que uma mudança real. E, claro, ainda faltava ouvir a opinião de um nome crucial nessa história: Elon Musk.
Starlink permanece no jogo
Musk, dono e controlador da Starlink, foi direto: os terminais de internet continuarão operando na Ucrânia. Ele afirmou publicamente que não pretende desativar o serviço, mesmo diante de seu crescente ceticismo sobre a política ocidental no conflito.
Em uma postagem na rede social X, Musk reforçou que a Starlink não será usada como moeda de troca ou ferramenta de pressão política. A declaração veio em resposta a Radosław Sikorski, ministro de Relações Exteriores da Polônia, que alertou sobre a possibilidade de buscar outros fornecedores caso a SpaceX se mostrasse um parceiro pouco confiável. Sikorski também lembrou que seu país desembolsa cerca de 50 milhões de dólares por ano para manter o serviço ativo.
O embate diplomático e a posição de Starlink na guerra
Elon Musk não deixou a polêmica passar despercebida. Em seu estilo característico, respondeu com provocação, chamando Radosław Sikorski de "homem pequeno" e afirmando que "não há substituto para a Starlink".
A discussão tomou proporções ainda maiores quando Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, também entrou na conversa. Ele rebateu as críticas de Sikorski e declarou que, sem a Starlink, "a Ucrânia já teria perdido a guerra há muito tempo, e os russos estariam na fronteira com a Polônia".
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, reagiu de forma indireta, publicando no X: "A verdadeira liderança exige respeito pelos aliados e parceiros, mesmo os menores e mais fracos." A mensagem parecia claramente direcionada à postura de Musk e Rubio.
Starlink: o pilar estratégico da Ucrânia
Desde o início da invasão russa, a Starlink se tornou a espinha dorsal das comunicações militares ucranianas. Com as redes convencionais destruídas ou bloqueadas, o sistema permite que as tropas coordenem operações em tempo real.
Seu papel é essencial em diversas frentes:
- Drones de reconhecimento: fornecendo imagens em tempo real para respostas rápidas no campo de batalha.
- Direcionamento de artilharia e ataques com drones kamikaze: garantindo maior precisão nos disparos.
- Evacuação médica e movimentação de tropas: permitindo a comunicação segura sem depender de rádios que podem ser interceptados.
O sistema conta com dezenas de milhares de terminais ativos na Ucrânia, incluindo 500 unidades adquiridas pelo Departamento de Defesa dos EUA em junho de 2023. A dependência da tecnologia de Musk, portanto, vai muito além de uma simples conexão de internet – é uma peça-chave na defesa do país.
De aliado a crítico: a mudança de postura de Musk sobre a guerra
Elon Musk começou como um dos maiores apoiadores da Ucrânia, fornecendo 15.000 terminais Starlink nos primeiros meses da invasão russa. A iniciativa garantiu a conectividade das forças ucranianas em um momento crítico, e Musk chegou até a desafiar publicamente Vladimir Putin para um “combate singular” pelo destino da Ucrânia.
Mas sua visão sobre o conflito mudou significativamente desde 2022. Em outubro daquele ano, ele propôs um "plano de paz", sugerindo que a Ucrânia reconhecesse a anexação da Crimeia pela Rússia. A ideia foi elogiada pelo Kremlin, mas recebeu duras críticas de Kiev e seus aliados.
Já em 2024, Musk reforçou sua convicção de que Putin não será derrotado e que o financiamento ocidental apenas prolonga um conflito sem solução. Em fevereiro, declarou que a assistência dos EUA "não ajuda a Ucrânia" e comparou a guerra a uma "picadora de carne", defendendo que o confronto deveria acabar.
No último domingo, sua frustração ficou ainda mais evidente. Musk afirmou estar "enojado com anos de matança em um impasse que a Ucrânia inevitavelmente perderá", deixando claro que sua visão sobre a guerra está cada vez mais alinhada ao ceticismo sobre o envolvimento do Ocidente.
O contexto da suspensão da ajuda
As recentes declarações de Elon Musk não surgiram no vácuo – elas acontecem em um momento de reavaliação do apoio dos Estados Unidos à Ucrânia. A administração Trump decidiu pausar toda a assistência militar e a cooperação em inteligência, justificando que é necessário entender se esse suporte realmente contribui para uma solução pacífica.
Nos bastidores, há mais em jogo. As negociações entre Washington e Kiev sofreram um curto-circuito, em parte devido a discussões sobre os recursos minerais da Ucrânia – um fator estratégico que pode influenciar os rumos do conflito.
Um funcionário da Casa Branca reforçou que o presidente "está focado na paz" e espera que os aliados dos EUA sigam a mesma linha. Enquanto isso, um novo diálogo entre Kiev e Washington está se desenrolando discretamente na Arábia Saudita, sugerindo que o futuro do apoio americano ainda está sendo definido.
O dilema do Ocidente
Apesar de suas críticas à guerra, Elon Musk deixou claro, pelo menos por enquanto, que a Starlink continuará operando na Ucrânia, garantindo a conectividade das forças militares do país como tem feito desde o início da invasão russa. Essa decisão alivia temporariamente as preocupações sobre a infraestrutura de comunicações ucraniana.
No entanto, sua postura levanta questões mais amplas sobre o futuro do apoio ocidental a Kiev. Com os Estados Unidos suspendendo sua assistência militar e figuras influentes, como o próprio Musk, defendendo que a Ucrânia não pode vencer o conflito, a pressão por uma solução negociada pode crescer.
Além disso, a visão do bilionário reflete uma mudança mais profunda na política dos EUA. O apoio incondicional a Kiev, que antes parecia inabalável, começa a dar sinais de desgaste. Diante desse cenário, a Ucrânia se vê cada vez mais incerta sobre até onde poderá contar com seus aliados na luta contra a Rússia.
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