Tendências do dia

A Marinha dos EUA enfrenta uma ameaça sem precedentes: China, Rússia e Coreia do Norte desenvolvem um novo tipo de guerra subaquática

Ideia de "tsunami radioativo" começa a surgir - uma ameaça para a qual não há antídoto

Guerra subaquática / Imagem: Nara, Navy Recognition, HI Sutton/Covert Shores
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Nos últimos dois anos, houve uma série de movimentações que colocam a Marinha dos EUA em uma posição delicada. Essencialmente, a nação enfrenta um desafio colossal e uma ameaça estratégica significativa diante do desenvolvimento de novos veículos submarinos não tripulados (UUV) por parte da Rússia e da Coreia do Norte, aliadas sob a crescente coalizão militar "Joint Sword". Essa aliança militar, que também inclui a China e o Irã, intensificou seus exercícios navais conjuntos. Em segundo plano: uma série de dispositivos com capacidade nuclear sem precedentes.

A "nova" guerra submarina

Em maio, China, Irã e Rússia foram vistos realizando um exercício naval conjunto no Golfo de Omã, uma via marítima crucial próxima à entrada do Golfo Pérsico. Buscava-se um espetáculo. Essa coalizão Joint Sword representa uma preocupação crescente para os estrategistas militares globais. A razão? Os UUV que estão sendo desenvolvidos, e que vamos abordar neste texto, são capazes, em teoria, de carregar ogivas nucleares e gerar o que estão sendo chamados de "tsunamis radioativos", transformando as dinâmicas dos conflitos marítimos modernos em algo sem precedentes.

O Haeil norte-coreano

A BBC reportou em 2024 sobre o Haeil norte-coreano, um drone submarino capaz de transportar armamento nuclear. Ele foi apresentado em um desfile nuclear e, posteriormente, a Coreia do Norte afirmou ter realizado o primeiro teste de seu sistema de armas nucleares submarinas "Haeil-5-23" em resposta aos exercícios militares conjuntos entre EUA, Coreia do Sul e Japão. O sistema foi (supostamente) testado na costa leste do país.

Trata-se de uma arma de 16 metros de comprimento e alcance estimado de 1.000 quilômetros, capaz de carregar ogivas nucleares ou convencionais, com potencial para atacar alvos na Coreia do Sul e no Japão. Alimentado por um sistema de propulsão diesel-elétrico, o Haeil precisa ser lançado em terra ou a partir de plataformas modificadas, já que a Coreia do Norte não possui submarinos grandes o suficiente para implantá-lo.

Ainda não há fontes independentes que confirmem os testes, mas o anúncio respondeu a suspeitas já existentes. Desde 2023, a Coreia do Norte tem anunciado avanços em seu sistema Haeil, capaz de se infiltrar em águas inimigas e causar explosões submarinas massivas. Nesse contexto, embora o regime apresente essas armas como inovadoras, analistas apontam que sua ameaça pode ser menor em comparação aos mísseis balísticos nucleares. Segundo Ahn Chan-il, pesquisador do World Institute for North Korea Studies, o sistema ainda está em fase de testes.

Torpedos / Imagem: Nara, Navy Recognition, HI Sutton/Covert Shores

O Poseidon russo

A Rússia avançou no desenvolvimento do chamado Poseidon, um torpedo submarino nuclear capaz de devastar cidades costeiras por meio de tsunamis radioativos. A arma, revelada pela primeira vez em 2015 e supostamente testada em 2016, combina uma autonomia extrema com um design nuclear que desafia as capacidades de defesa atuais. Segundo relatos, a Rússia planeja produzir pelo menos 30 desses torpedos, que serão instalados em submarinos modificados para acomodar seu tamanho e peso.

Trata-se de uma arma impulsionada por um reator nuclear compacto, capaz de viajar a velocidades de 185 km/h, percorrer distâncias de até 10.000 quilômetros e operar em profundidades de 1.000 metros. Ela foi projetada para evitar a detecção por meio de tecnologias avançadas de rastreamento acústico e possui uma carga nuclear com um rendimento estimado em vários megatons, potencialmente chegando a até 100, superando significativamente a Tsar Bomba, a bomba nuclear mais poderosa já testada.

Impacto do Poseidon na estabilidade estratégica

O desenvolvimento do Poseidon reflete a resposta da Rússia à retirada dos Estados Unidos do Tratado de Mísseis Antibalísticos de 1972, que, segundo Putin, era "a pedra angular da segurança internacional". O torpedo visa superar os sistemas de defesa antimísseis dos EUA, sendo capaz de atacar grupos de porta-aviões e alvos costeiros, enquanto reforça a doutrina nuclear russa de "escalar para desescalar", uma abordagem que utiliza ameaças nucleares para alcançar objetivos estratégicos.

Além disso, a arma ilustra os riscos dos sistemas autônomos no campo nuclear, onde a redução do controle humano aumenta a probabilidade de erros e mal-entendidos em situações de crise. Em particular, ela levanta questões críticas sobre a ética e a segurança dessas tecnologias.

Os tsunamis radioativos

O conceito operacional de drones como o Poseidon ou o Haeil, que modificam e utilizam o ambiente natural como arma, parece violar os princípios do uso de armas no direito internacional. As detonações nucleares projetadas para gerar tsunamis radioativos poderiam ser classificadas como técnicas de modificação ambiental proibidas sob a Convenção ENMOD. Além disso, os efeitos devastadores e de longo prazo no meio ambiente e na população poderiam infringir as disposições do Protocolo Adicional I.

Riscos na geopolítica

Sem dúvida, exemplos como o Poseidon ou o Haeil refletem o uso de sistemas que apresentam um desafio tático considerável devido à sua capacidade de lançamento a partir de submarinos ou navios de superfície, o que dificulta sua detecção e interceptação.

Além da ameaça direta a alvos civis e militares, esses UUV podem, em teoria, interromper rotas comerciais globais e causar danos irreparáveis aos cabos submarinos de internet, que conectam continentes e são fundamentais para a infraestrutura de comunicação mundial.

A resposta ilimitada dos EUA

Enquanto países como a Rússia e a Coreia do Norte desenvolvem essas armas submarinas ofensivas, a Marinha dos EUA parece ter se concentrado em UUVs projetados para tarefas mais tradicionais, como detecção de minas e reconhecimento, com modelos como o Mk 18 Mod 2 Kingfish e o Knifefish.

Dito isso, especialistas alertam que essa estratégia deixa o país mal preparado para enfrentar ameaças não convencionais, como os chamados "tsunamis radioativos". De fato, atualmente não existem contramedidas específicas para se proteger dessas armas, nem foram tomadas medidas claras para desenvolver sistemas comparáveis.

Impacto psicológico e econômico

Também se destacam as capacidades desses UUV para realizar ataques surpresa e gerar, além de destruição física, caos psicológico e econômico. Cidades costeiras, como Nova York, Los Angeles ou Tóquio, poderiam ser particularmente vulneráveis.

Em suma, essas armas emergentes estão redefinindo o cenário de guerra, aumentando a imprevisibilidade das operações militares. Os drones-torpedo descritos não são apenas uma ameaça por sua capacidade destrutiva, mas também pelo precedente que estabelecem no uso de tecnologias autônomas e do meio ambiente como armas. Seu uso levanta sérias preocupações éticas, estratégicas e legais, tornando essencial um maior escrutínio legal e a busca por mecanismos de controle de armas para evitar sua proliferação.

Imagem | Nara, Navy Recognition, HI Sutton/Covert Shores

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

Inicio