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Embora a taxa de natalidade na China caia, uma região não para de ter filhos; o segredo: ter uma família numerosa tem uma recompensa

  • O modelo da cidade de Tianmen oferece uma nova via para amenizar a crise demográfica do país

  • O problema é que ele requer um grande investimento econômico

Há uma cidade chinesa em que a taxa de natalidade está ótima. O segredo? Dinheiro. / Imagem: Pexels
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Nos últimos tempos, vimos, por meio de dados e iniciativas, as razões por trás da crise de natalidade enfrentada pela China. A situação é tão grave em algumas regiões que o governo tem ido de porta em porta em busca de mulheres ou financiado partos sem dor. E, no entanto, uma região do país pode ter encontrado a chave para a recuperação.

Um aumento inesperado

Estamos falando de Tianmen, uma cidade de um milhão de habitantes na província central de Hubei, que registrou um surpreendente aumento de 17% nos nascimentos durante 2024, somando 1.050 bebês a mais que no ano anterior.

Esse crescimento contrasta com o declínio contínuo da natalidade que temos acompanhado na China desde 2016, tornando a região uma rara exceção em um contexto nacional de envelhecimento populacional e diminuição demográfica, que ameaça o crescimento econômico do país. Segundo dados preliminares, entre janeiro e novembro de 2024, nasceram 6.530 bebês na cidade, um aumento de 16% em comparação ao mesmo período de 2023.

A resposta: incentivos

O sucesso de Tianmen se explica devido a um pacote de incentivos econômicos criado para fomentar o crescimento familiar. De fato, as famílias que têm um terceiro filho podem receber até 220.000 yuans (R$ 173 mil) em benefícios, incluindo um cupom de 120.000 yuans (R$ 94 mil) para a compra da casa, um pagamento único de 3.000 yuans (R$ 2,3 mil) e um subsídio mensal de 1.000 yuans (R$ 788) até que a criança complete três anos.

Benefícios que, além disso, foram significativamente reforçados em 2024, devido à determinação das autoridades locais em lidar com o problema demográfico.

Empresas privadas também ajudam

As empresas privadas também desempenharam um papel crucial nesse esforço. Casos como o da Xpeng, uma notória fabricante de veículos elétricos, que ofereceu "recompensas" de 30.000 yuans (R$ 23,9 mil) aos seus funcionários que tivessem um terceiro filho, com aumentos para aqueles que optassem por ter quatro ou cinco.

Além disso, o fundador da empresa, He Xiaopeng, declarou nas redes sociais que a intenção por trás dessas medidas é permitir que os funcionários tenham mais filhos sem se preocupar com os custos, refletindo um compromisso conjunto entre o setor público e o privado para enfrentar a crise demográfica.

Uma ilha em um panorama crítico

A verdade é que, apesar do sucesso local em Tianmen, os números nacionais continuam alarmantes. Em 2023, foram registrados pouco mais de nove milhões de nascimentos, a cifra mais baixa desde que começaram os registros oficiais em 1949. Isso marcou o segundo ano consecutivo de diminuição na população total da China, uma tendência que, obviamente, apresenta desafios significativos para o futuro econômico e social do país.

Em 2024, espera-se que os próximos dados mostrem um leve aumento na natalidade, atribuído em parte ao impacto positivo das políticas de incentivos implementadas em cidades como Tianmen e a fatores culturais, como o Ano do Dragão, considerado “um período auspicioso” para ter filhos. De fato, hospitais em províncias como Guangdong relataram aumentos de até 23% nos nascimentos em comparação com o ano anterior, o que poderia indicar uma mudança incipiente na tendência.

A pista de Tianmen

O que parece mais ou menos claro é que o caso de Tianmen demonstra que os incentivos econômicos, se forem substanciais, podem influenciar positivamente nas decisões familiares em relação a ter filhos. Segundo o demógrafo He Yafu, o problema em outras regiões é que os subsídios atuais são muito pequenos para gerar um impacto significativo. Em uma publicação recente, o pesquisador afirmou que "se os subsídios para ter filhos não têm efeito, é porque precisam ser mais altos".

Em outras palavras, o sucesso de Tianmen pode servir como modelo para outras cidades e províncias que buscam reverter o declínio demográfico. No entanto, replicar o mesmo em nível nacional exigirá, a priori, investimentos significativos e um compromisso de longo prazo por parte do governo central e dos atores privados. Como temos observado, a combinação de uma população envelhecida, os altos custos de vida e uma crescente resistência entre os jovens em formar famílias torna mais difícil reverter a tendência de natalidade.

Imagem | Pexels

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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