O plano B dos EUA no Ártico é uma caverna subaquática na Noruega; a única desvantagem é que não está à venda

Os Estados Unidos têm um plano B caso a Groenlândia não funcione: um ponto estratégico para armazenar sua frota de submarinos nucleares. O problema? Ele está sendo utilizado pelos Países Baixos

Base em caverna no Ártico é nova menina dos olhos para geopolítica dos EUA / Imagem: WilNor Governmental Services
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A declaração de Trump sobre a Groenlândia não foi novidade. Na verdade, essa foi a quinta vez em que os Estados Unidos sondaram agregar a maior ilha do mundo. Por trás desse interesse estão o Ártico e, claro, a geopolítica. O Ártico é crucial para as rotas globais de transporte, rico em recursos naturais, faz fronteira com o "amigo comunista" e um maior controle da região poderia alterar as estratégias de duas grandes potências: China e Rússia. E, se o plano A não der certo, há um plano B.

Queremos essa caverna

Ao que tudo indica, a Marinha dos Estados Unidos busca retomar operações no complexo Olavsvern, uma base submarina construída durante a Guerra Fria pela Marinha Real Norueguesa. O enclave, localizado nos fiordes noruegueses, próximo ao Mar da Noruega e protegido por 270 metros de rocha, foi, em seu auge, um porto estratégico para submarinos e embarcações de patrulha.

Sem dúvida, embora esteja fora de uso desde 2009, Olavsvern continua sendo um ativo de alto valor, especialmente em um contexto de crescente atividade russa no Ártico. No entanto, a negociação não será simples. Apesar das conversas iniciais em 2020 para um possível acordo de arrendamento, até o momento nada foi concretizado, e o futuro da base segue incerto para os interesses dos Estados Unidos.

Infraestrutura e capacidade

O complexo Olavsvern conta com aproximadamente 25.000 metros quadrados de instalações subterrâneas, incluindo docas em águas profundas, um túnel de entrada de um quilômetro, áreas de armazenamento fortificadas e espaços de manutenção. E não só isso. Construído a um custo de 450 milhões de dólares, financiado em grande parte pela OTAN, o local também dispõe de alojamentos, abastecimento de água potável e uma usina de energia.

Durante a Guerra Fria, o local foi utilizado por submarinos aliados para manutenção e reparos, tornando-se um centro para exercícios militares e treinamentos em condições de inverno rigoroso. Sua capacidade de proteger submarinos e sua localização estratégica fazem dele uma peça valiosa para operações no Ártico, especialmente no Mar de Barents, uma rota crucial para a frota russa.

Uma caverna contra a expansão russa

O renovado interesse por Olavsvern segue essa mesma lógica e ocorre em um contexto de intensificação das operações do Kremlin no Ártico. Moscou expandiu suas bases militares na região e aumentou a atividade de seus submarinos, os quais utilizam o Mar de Barents e o corredor GIUK (Groenlândia, Islândia, Reino Unido) para acessar o Atlântico.

Como essas rotas são críticas para as operações navais russas, a OTAN e a Marinha dos Estados Unidos tentam reforçar sua presença na região. É por isso que submarinos americanos, como o USS New Mexico e o USS Florida, realizaram visitas a portos próximos, como o de Grøtsund, ao norte de Tromsø, que atualmente serve como ponto de apoio para operações no Alto Norte. E, claro, também por isso as palavras de Trump.

O único “porém”

Há um obstáculo que, neste momento, parece intransponível. Apesar de suas vantagens estratégicas, a reativação de Olavsvern enfrenta desafios significativos. O principal: a base foi vendida a uma empresa privada, a WilNor Governmental Services, em 2013, e hoje é usada principalmente para treinamentos anuais do Corpo de Fuzileiros Navais neerlandês. Em outras palavras, no momento, ela não parece estar à venda.

Nesse sentido, a WilNor manifestou interesse em transformar Olavsvern novamente em um centro logístico e operacional, ou seja, está aberta à ideia americana, mas qualquer plano para receber, digamos, submarinos nucleares com a bandeira dos Estados Unidos, exigiria a aprovação das autoridades norueguesas de segurança radiológica — um processo lento e sem prazos claros.

Impacto geopolítico

Este é o último ponto a ser abordado no cenário em questão. O possível uso de Olavsvern pela Marinha dos Estados Unidos gerou preocupações entre as comunidades locais devido aos riscos associados aos submarinos nucleares.

Essas preocupações são as que, precisamente, têm retardado as decisões do Ministério da Defesa da Noruega, que até agora não deu sinais claros sobre a expansão do uso militar da base. No entanto, a crescente pressão da OTAN e o aumento nos gastos de defesa europeu após a invasão russa da Ucrânia podem acelerar esses planos.

Conquistar o Ártico

Não há dúvida de que o complexo Olavsvern representa um ativo estratégico de grande valor na região ártica para os Estados Unidos, especialmente diante do aumento das tensões com a Rússia. Neste momento, o principal obstáculo é de natureza burocrática, mas, se considerarmos que a reativação fortaleceria as capacidades da OTAN e permitiria que a Marinha dos Estados Unidos operasse mais eficazmente no Alto Norte, essa barreira não parece tão intransponível.

Uma ideia ou plano que, assim como Groenlândia, destaca a importância da base e da região, o Ártico, no equilíbrio de poder do século 21, posicionando-a, neste momento, como um ponto focal na rivalidade entre grandes potências.

Imagem | WilNor Governmental Services

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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