Há épocas do ano em que é mais comum testarmos os limites dos nossos eletrodomésticos e instalações elétricas. Esse é o caso, por exemplo, do Natal, se costumamos celebrar reuniões com amigos e familiares, ou diretamente no inverno, se usamos aquecimento elétrico.
Queremos ligar muitos dos aparelhos que temos em casa ao mesmo tempo: fornos, placas de cozinha, micro-ondas, radiadores, bombas de calor, televisores, luzes, sistemas de som, computadores, temos a geladeira funcionando no máximo... etc.
Isso, é claro, tem um custo nas nossas faturas de energia, mas também impacta no funcionamento da nossa instalação elétrica, sendo comum sofrermos o que normalmente chamamos de "queda de disjuntores". Quais são os dois principais motivos para isso acontecer e qual margem temos para evitá-lo?
Motivo 1: Eu ultrapassei a potência máxima contratada com a minha linha

Um dos pontos-chave do nosso contrato de eletricidade é o termo da potência elétrica máxima contratada, um dado que podemos consultar na nossa fatura e que serve para determinar quanto de potência podemos consumir simultaneamente em casa em um determinado momento.
Dessa cifra, medida em quilowatts, dependerá quantos aparelhos e eletrodomésticos podemos ter ligados ao mesmo tempo em toda a casa, por isso poderíamos pensar que quanto mais tivermos, melhor, o que seria verdade se não tivesse um custo importante nas nossas faturas.
Daí a importância de escolher um valor adequado que nos permita realizar nossas atividades cotidianas, mas sem desperdiçar potência demais, o que resultaria em um aumento nos custos da fatura.
Muito bem, vamos supor, por exemplo, que eu tenha contratado uma potência máxima de 4,6 kW e que, em um momento específico do dia, eu conecte muitos eletrodomésticos e ultrapasse esse valor no consumo de eletricidade. O que acontece em casa?
Pois, como quase todos nós já passamos por isso em alguma ocasião, ocorre o que tecnicamente é chamado de "salto do interruptor de controle de potência" (ICP), o dispositivo que corta o fornecimento quando a potência elétrica demandada ultrapassa a que temos contratada.
E, nos últimos anos, os novos contadores inteligentes são os que integram e reproduzem eletronicamente o funcionamento desse ICP, fazendo com que fiquemos sem luz em casa, embora aparentemente tudo esteja bem no quadro elétrico.
Muito bem, mas há um certo limite em que posso ultrapassar a potência máxima contratada ou a luz é cortada imediatamente, digamos, se eu consumir apenas alguns watts a mais? Pois, felizmente, há uma margem relativamente ampla que varia em duas dimensões: consumo de corrente e tempo.

O corte no fornecimento de eletricidade não ocorre imediatamente quando ultrapassamos a potência máxima contratada por alguns poucos watts (por exemplo, dos 4,6 kW típicos que comentávamos antes), pois segue-se uma curva regulada pela norma UNE 20.317, que leva em consideração o tempo e a corrente.
Quanto mais nos ultrapassamos em potência, mais rapidamente a luz será cortada, e, ao contrário, se apenas ultrapassarmos alguns poucos watts, o corte demorará muito mais para ocorrer.
Por exemplo, se ultrapassarmos 10% da potência contratada, a luz não será cortada por pelo menos 1 hora, mas se ultrapassarmos 50%, a luz será cortada em menos de 15 minutos, e assim por diante.
No nosso exemplo concreto, com 4,6 kW contratados, podemos estar consumindo 5,06 kW por uma hora sem problemas (ou seja, 460 watts a mais), enquanto se ultrapassarmos até uns 7 kW (ou seja, uns 2.300 watts a mais), a luz será cortada em menos de 15 minutos.
E todos esses watts a mais terão que ser pagos, claro, até com um acréscimo, fazendo com que seu preço seja um pouco mais caro do que os "watts normais" dentro do limite contratado.
Sabendo disso, podemos tentar avaliar se vale a pena ter sempre contratada uma potência muito superior à realmente necessária no dia a dia, ou se podemos tentar economizar com um valor mais baixo e utilizar esses margens para usos mais pontuais.
Motivo 2: Um disjuntor foi acionado para proteger a instalação elétrica da casa
Outra situação comum é que, ao falar que "os disjuntores saltaram", não se trata de termos ultrapassado o limite da potência contratada geral para toda a casa, mas sim o máximo suportado por algum ponto específico da instalação da residência.
Se, em determinado momento, tivermos muitos dispositivos ou aparelhos conectados, podemos exceder o máximo suportado por algum disjuntor ou interruptor específico da instalação no quadro de luz.
São as alavancas individuais que controlam certos circuitos da casa por zonas ou tipos de consumo. Por exemplo, costuma haver um para a iluminação, outro para a cozinha e os eletrodomésticos que mais potência necessitam, um para as tomadas, etc.
Esses limitadores com formato de alavanca são responsáveis por interromper a corrente elétrica de um circuito quando a corrente máxima suportada, indicada em cada alavanca, é ultrapassada. Esse valor pode ser impresso em cada alavanca com a letra "A" de Ampére ou também "C".

Cada quadro elétrico é único, mas, por exemplo, no meu caso, aparecem potências que vão de 10A a 25A. Isso significa que cada um desses limitadores é capaz de suportar uma quantidade específica de corrente.
E embora, por exemplo, meu IGA (Interruptor Geral Automático) geral suporte 40A, em um ambiente específico eu não poderei conectar e ligar eletrodomésticos que consumam mais de 25A, caso contrário, ele será acionado.
Para conhecer a equivalência e a potência que cada limitador suporta, basta multiplicar os 230 volts pela amperagem de cada limitador. Assim, por exemplo, o de 10A não me permitirá ligar mais do que 2.300 watts de potência.

Isso significa que, embora tenhamos contratado 6.000 watts de potência com a companhia elétrica, se o disjuntor da cozinha só suportar 15A, ou seja, 3.450 watts, essa será a primeira limitação a entrar em jogo quando usarmos equipamentos de alto consumo, como a placa de indução, o forno, etc.
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