A descoberta de uma reserva virtualmente inesgotável de hidrogênio no norte da França colocou engenheiros e cientistas para trabalhar contra o relógio: ainda não há tecnologia para extraí-lo, mas os riscos são altos demais para não tentar.
Descoberta inesperada
Em 2022, durante explorações de metano sob as minas de carvão de Folschviller, no norte da região francesa de Lorraine, uma equipe de pesquisadores tropeçou em uma reserva de hidrogênio natural cuja concentração estava aumentando em maiores profundidades.
Após meses analisando a concentração do gás em diferentes estratos, os pesquisadores perceberam que, possivelmente, estavam olhando para o maior depósito conhecido de hidrogênio branco, uma descoberta que poderia abrir novas perspectivas energéticas para a França e o resto da Europa.
O que é hidrogênio branco?
É hidrogênio natural. Diferente do hidrogênio verde, produzido a partir da água com energias renováveis, ou do hidrogênio cinza, o mais comum, produzido a partir do gás natural, o hidrogênio branco surge naturalmente no subsolo.
No mapa do hidrogênio branco, destaca-se o Mali, onde está localizado o poço Bourakébougou, com uma produção anual de cinco toneladas.
De onde ele vem?
Uma hipótese é que a presença de minerais ferrosos no subsolo causa a separação de oxigênio e hidrogênio nas moléculas de água, absorvendo oxigênio e liberando hidrogênio.
Em maiores profundidades, o teor de hidrogênio branco de Folschviller aumenta. A 1.100 metros abaixo do solo, sua concentração chega a 14%. A 1.250, 20%. Especialistas especulam que a 3.000 metros pode ultrapassar 90%, do que se deduz a existência de uma reserva natural praticamente inesgotável.
A reserva
Estima-se que a bacia de mineração de Folschviller repousa sobre um depósito de até 46 milhões de toneladas de hidrogênio natural, o equivalente à metade da produção mundial de hidrogênio cinza, o mais comum e poluente.
Depósitos de hidrogênio branco já foram identificados na Austrália, Mali, Estados Unidos e Espanha. Mas é a primeira vez que um foi encontrado na França. A descoberta pode posicionar o país como ator-chave na transição para energia limpa, com o hidrogênio complementando outras fontes sustentáveis na matriz energética do futuro.
Por que é importante?
Um quilo de hidrogênio libera quase quatro vezes mais energia do que um quilo de gasolina, o que o torna um combustível muito eficiente. Além disso, é um vetor de energia limpa que só produz água quando é usado, sem emitir mais dióxido de carbono.
A nível local, o hidrogênio natural pode ser usado na indústria e no transporte, desde que a infraestrutura necessária seja desenvolvida e o investimento em veículos movidos a hidrogênio seja incentivado. Globalmente, o gasoduto H2Med, um projeto europeu para transportar hidrogênio verde, passará perto do campo de Lorraine, aumentando a possibilidade de distribuição em larga escala.
Desafios à frente
O primeiro é a tecnologia de extração: não há tecnologia que permita que o hidrogênio seja extraído e separado de outros gases em profundidades maiores que um quilômetro. O segundo é o modelo econômico: um plano que permita que o investimento envolvido na extração de hidrogênio em diferentes condições de pressão e mistura do que as explorações tradicionais de gás seja amortizado.
Jacques Pironon, pesquisador do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS), está otimista: "Acreditamos que é possível explorá-lo a 3.000 ou 4.000 metros, uma profundidade que as empresas de gás sabem administrar perfeitamente".
O que acontece agora?
A equipe planeja estender a exploração por mais alguns anos para entender melhor o depósito e avaliar seu potencial real. Então, a prioridade será desenvolver um modelo industrial viável para a exploração dessa fonte de energia, o que exigirá novas técnicas de extração e separação de hidrogênio e um modelo de exploração comercial.
O trabalho está progredindo no caminho certo. "Em dois ou três anos, as perspectivas mudaram completamente, e queremos acreditar que contribuímos para isso aqui em Lorraine", diz Philippe de Donato, diretor de pesquisa do local.
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