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Pequena cidade da Espanha quer alcançar o que parece impossível: ser o novo berço do café

  • A ideia é transformar Sant Vicenç de Torelló no produtor de café mais distante do "cinturão do café".

  • O caminho não tem sido fácil, com várias colheitas perdidas, mas agora parece que encontraram a fórmula certa.

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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A Espanha tem uma longa tradição no consumo de café. É algo parecido com o chocolate belga: embora não seja um país produtor de cacau, os belgas sabem selecionar a qualidade dos grãos e trabalhá-los de forma excepcional.

Tradicionalmente, a forma como o café é preparado na Espanha — o torrefacto — não agrada a todos, o que levou ao surgimento de torrefadores que escolhem grãos de melhor qualidade e realizam processos de torra que, finalmente, permitem apreciar um café de alta qualidade na xícara.

No entanto, a Espanha ainda não produz café em grandes quantidades. Pelo menos por enquanto. Alguns agricultores estão se esforçando para mudar essa realidade e transformar o país na capital europeia do café.

O mais interessante é que uma região da Catalunha pode desempenhar um papel importante nesse movimento.

O café espanhol está ganhando espaço

Nos últimos anos, o município de Agaete, em Gran Canaria, tem produzido café de especialidade altamente valorizado por seus consumidores. Não é uma produção em larga escala, mas as condições climáticas da ilha favorecem esse tipo de cultivo, que exige requisitos específicos.

Na Espanha continental, também vemos agricultores experimentando variedades de café, o que pode abrir caminho para uma produção nacional mais significativa.

Há exemplos tanto em Málaga quanto em Almuñécar, onde estão sendo realizados testes para desenvolver grandes plantações de café da variedade arábica. As condições em Agaete são ideais para esse cultivo, e as de Andaluzia são promissoras. Mas o mais curioso é que há quem esteja tentando cultivar café mais ao norte. Muito mais ao norte: na Catalunha.

Fora da zona tropical

O cultivo de café é influenciado por diversos fatores, mas existem diretrizes básicas: a variedade arábica é cultivada em altitudes entre 800 e 2.100 metros, enquanto a robusta cresce entre 500 e 1.200 metros. A temperatura ideal para o arábica varia entre 18 e 22 graus Celsius, e para o robusta, entre 22 e 26 graus. Assim, o chamado "cinturão do café" inclui regiões como Ásia (principalmente Vietnã e Índia), América do Sul e o centro da África, consideradas ideais para esse cultivo.

As Ilhas Canárias estão no limite superior desse cinturão e, com as mudanças climáticas, a costa sul da Andaluzia também se apresenta como uma nova opção para o plantio de café.

Mas… e a Catalunha? Pois é exatamente isso que uma dupla — Eva e Joan — está tentando. Eles possuem 5.000 cafeeiros em sua propriedade em Sant Vicenç de Torelló, um pequeno vilarejo com apenas 2.000 habitantes na região de Osona.

Tentativa e erro

De acordo com o jornal Ara, Eva e Joan começaram a estudar o solo, as chuvas e o clima da propriedade há oito anos. A análise revelou algo surpreendente: mesmo estando muito longe da zona ideal, o local reunia 90% das condições climáticas adequadas para o cultivo de café.

Isso ocorre porque a fazenda está em um vale, onde montanhas e carvalhos atuam como uma barreira natural, criando um microclima favorável ao crescimento dos cafeeiros.

Eles decidiram apostar no cultivo de café de sombra, mas levaram tempo para aperfeiçoar o processo. Foram necessárias três tentativas de germinação para alcançar algum sucesso. Na primeira colheita, os planos foram frustrados por um problema burocrático envolvendo cabos de energia para as máquinas de aquecimento, o que resultou na morte das plantas.

Na segunda tentativa, os cafeeiros enfrentaram dificuldades na germinação. Foi apenas na terceira tentativa que Eva e Joan começaram a colher os primeiros grãos de café.

Adaptação genética

Com a primeira colheita, o casal já realizou uma degustação para tirar conclusões sobre o cultivo. A solução que encontraram para que a planta tropical suportasse temperaturas extremas — de até -5 graus no inverno e 40 graus no verão — foi a adaptação genética.

Eles importaram sementes de um local confidencial (como revelaram ao Ara) e as analisaram para que pudessem crescer na propriedade. Por meio de um processo de "estresse" controlado, conseguiram adaptar a planta às condições locais. Durante os meses quentes, os cafeeiros crescem ao ar livre, sob sombra, mas nos meses de frio e geadas são mantidos em estufas.

Com grandes expectativas

O objetivo de Joan e Eva é produzir 7.000 quilos de café quando as plantas atingirem sete anos de idade. Embora esse volume não seja grande, é um começo promissor para um café cujo sabor ainda é desconhecido. Apesar do mistério sobre a origem das sementes, o jornal El Nacional aponta que o casal tem como meta cultivar as variedades Geisha (atualmente a mais valorizada) e Castillo.

Mudança climática: aquece que dá certo

Por enquanto, o trabalho na propriedade é feito por apenas duas pessoas, mas o objetivo é empregar cerca de 12 trabalhadores na plantação de café. Além disso, profissionais especializados no universo do café devem realizar as primeiras degustações do produto em 2025. Só o tempo dirá quais serão os resultados desse café cultivado em uma latitude tão incomum, mas que pode se tornar menos exótico em alguns anos.

Já vimos um exemplo semelhante na Sicília, onde, há um século, tentou-se criar uma plantação de cafeeiros. Na época, as plantas morriam todos os invernos devido às temperaturas extremamente baixas. Porém, com as mudanças climáticas, agora estão florescendo espontaneamente, sem necessidade de cuidados especiais.

Imagem| Teogomez

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