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Estadunidense tenta criar ovelha gigante e acaba na cadeia

Fazendeiro se declarou culpado após clonar espécie protegida para criar híbridos para caça

Ovelha
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Uma história comum na ficção científica é de como os crimes evoluem juntamente com as leis que lidam com eles. Já estamos muito familiarizados com o crime cibernético, mas os crimes baseados em novas tecnologias vão além do mundo digital. Um dos campos que se presta a isso é a genética.

O protagonista desta história é Arthur "Jack" Schubarth, um americano que adotou um perfil antitético. Schubarth não é um geneticista ou um técnico de laboratório, mas um fazendeiro de gado de 80 anos, do estado de Montana. Ele também possui e opera a Sun River Enterprises LLC, uma fazenda de gado de cerca de 87 hectares, também conhecida como Schubarth Ranch.

O rancho é dedicado (ou era) à criação e venda de "gado alternativo", como cabras montesas, muflões (tipos de carneiros selvagens) ou outros ungulados (classificação de mamíferos com cascos). O destino desses animais era, principalmente, a caça. A princípio, tudo era feito de forma legal.

Somente a princípio, porque, como anunciado há alguns meses pelo Escritório de Relações Públicas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Schubarth se declarou culpado do crime federal de tráfico de animais selvagens. O motivo: seus esforços para criar em cativeiro uma ovelha híbrida gigante para caça.

Agora sabemos a sentença que o octogenário terá que enfrentar: seis meses de prisão por dois crimes ambientais em nível federal. O primeiro por conspiração para violar o chamado Lacey Act, e o outro por quebrar a própria regra.

A lei, aprovada em 1900 e alterada em 1981 e 2008, afirma que "qualquer importação de vida selvagem prejudicial para os Estados Unidos (...) deve ser autorizada sob uma licença emitida pelo Departamento de Pesca e Vida Selvagem dos EUA."

O plano de Schubarth e seus comparsas para criar suas ovelhas híbridas gigantes não era simples. De acordo com o Departamento de Justiça, a atividade começou com a importação de material pertencente a uma subespécie de muflão que habita as montanhas asiáticas, da região de Pamir, no Quirguistão. É o argali ou carneiro Marco Polo (Ovis ammon polii), uma subespécie conhecida por ser a maior ovelha do mundo.

Essas ovelhas podem pesar mais de 120 kg e têm chifres que também podem ter cerca de 1,5 m de altura. Também é uma espécie protegida pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens e pela lei dos EUA. Sua presença também é proibida em Montana, conforme a legislação estadual.

Clonagem e hibridização

A segunda etapa do plano foi a clonagem. Schubarth enviou material genético das amostras importadas para um laboratório que fez o trabalho. Ele obteve embriões clonados de um espécime de carneiro Marco Polo que ele chamou de Montana Mountain King (o Rei da Montanha de Montana).

Conforme o Departamento de Justiça explicou, Schubarth e seus comparsas usaram o sêmen do Montana Mountain King (ou MMK) para inseminar fêmeas de várias espécies de ovelhas (também proibidas em Montana) e, assim, criar animais híbridos, cada vez maiores e mais valiosos para venda em áreas de caça. Para isso, eles tiveram que falsificar uma variedade de documentos de saúde. O grupo também vendeu amostras do esperma diretamente para alguns compradores em outros estados, de acordo com as mesmas fontes.

Além do meio ano de prisão, a sentença inclui o pagamento de US$ 20 mil (cerca de R$ 115,4 mil) a um fundo vinculado ao Lacey Act, e outros US$ 4 mil (cerca de R$ 23 mil) à National Fish and Wildlife Foundation. Segundo o juiz responsável pelo caso em depoimentos coletados pela agência Associated Press, a condenação levou em consideração a idade avançada do réu e a ausência de antecedentes criminais. Não fosse isso, Schubarth estaria diante de penas de até 10 anos de prisão (cinco para cada crime) e meio milhão de dólares em multas.

Talvez o mais singular sobre o caso seja que a condenação de Schubarth tem pouco a ver com o ato de clonar e hibridizar animais, mas com o ato de importar uma espécie exótica para os Estados Unidos (e a fase anterior, a "conspiração"). Isso pode ser porque as autoridades consideram essa parte do plano livre de riscos.

O mesmo plano teria sido considerado inofensivo se tivesse sido realizado em espécies nativas?

Às vezes, as leis ficam para trás em relação às tecnologias, criando brechas legais, então nem sempre é fácil processar atos que podem violar normas bioéticas, regras com as quais nem todos podem estar familiarizados.

Apesar da não condenação por clonagem e hibridização, tanto o juiz responsável pelo caso quanto o promotor mostraram sua rejeição à prática de acordo com declarações coletadas pela AP e pelo Departamento de Justiça, respectivamente. A primeira falou da necessidade de dissuadir qualquer um de tentar "mudar a forma genética de criaturas" na Terra; enquanto o segundo argumentou que as ações de Schubarth eram "tão antinaturais quanto ilegais", uma visão extrema das ações do empresário pecuário.

Imagem | Montana Mountain King, Departamento de Justiça

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