Estamos talvez no momento mais emocionante da corrida espacial das últimas décadas, e devemos tudo à Starship. É a nave que promete nos levar a Marte e, depois de alguns erros e falhas, nestes últimos dias conseguiu deixar o mundo sem palavras. Primeiro, com seu propulsor de 70 metros – o Super Heavy – pousando com uma precisão de 5 milímetros. Depois, com algo que parece ficção científica: um pouso perfeito nos braços mecânicos de uma torre.
Esta semana, pela primeira vez, testemunhamos algo que pode mudar a história, mas também os bolsos de muitos. O motivo? A Starship será 300 vezes mais barata que o ônibus espacial, e a ideia é reduzir o preço para US$ 10 por quilo.
Ridículo
O gráfico acima é feito pela Visual Capitalist e reflete perfeitamente a evolução do preço de enviar qualquer coisa ao espaço desde 1960. Cada lançamento tem um preço "fixo" que reflete o combustível usado, mas também o preço do próprio foguete propulsor. Esses lançamentos costumam ser milhões de dólares e, portanto, o preço por quilo dispara. Por quê? Bem, porque, após cada lançamento, os propulsores são destruídos.
Normalmente, eles caem no deserto, no mar ou se desintegram. Também pode haver azar e pode cair na sua casa. Assim, encontramos preços de mais de 54 mil dólares (313,2 mil reais) por quilo para o ônibus espacial (que era muito mais barato que o milhão por quilo de carga do Vanguard), mas a chegada da SpaceX mudou tudo.
SpaceX
Embora foguetes como o chinês Long March 3B ou o russo Proton tivessem preços mais acessíveis (4,4 mil 4,3 mil dólares por quilo, respectivamente, ou 25,5 mil e 24,9 mil reais), quando os foguetes reutilizáveis da SpaceX chegaram, tudo mudou. O Falcon 9 é parcialmente reutilizável graças a um propulsor que pousa verticalmente após o lançamento e reduziu o valor para US$ 2,7 mil por quilo (15,6 mil reais).
O Falcon Heavy baixou ainda mais o preço por poder transportar mais peso e, portanto, ser mais lucrativo: cerca de 1,5 dólares por quilo (8,7 mil reais). Mas o Starship não faz sentido, com um custo estimado de cerca de US$ 200 por quilo (1,16 mil reais). É um foguete muito maior que o Falcon Heavy e o maior da história, mas o mais importante é seu material e que possamos recuperar seu propulsor.
Aço
É preciso reconhecer que os primeiros estágios do Starship não foram fáceis, principalmente diante da opinião pública. A aparência não era das melhores e parecia um foguete 'gordo' tremendamente desleixado. Só vimos o segmento superior e a cobertura de aço que parecia ter sido finalizada com martelos não ajudou, mas era apenas um protótipo.
Se fosse carbono, talvez as coisas tivessem mudado, mas essa mudança de material é uma das chaves para atingir esse preço ridículo por quilo de carga. Foi uma aposta arriscada da SpaceX, que acabou fazendo sentido por diferentes vantagens do aço que o próprio Musk comentou alguns anos atrás:
- Ele suporta temperaturas de 810º em comparação com 149º da fibra de carbono.
- O aço se torna mais forte em temperaturas criogênicas, como a do combustível da Starship.
- Ele é mais resistente a microfraturas, o que é essencial para um foguete que voará e pousará várias vezes.
- O preço é muito menor: 3 dólares por quilo em comparação com 200 por quilo da fibra de carbono.
Democratizando o voo espacial
Resta saber até onde essa redução por lançamento irá (alguns estimam que 10 dólares por quilo no futuro), mas está claro que o que a SpaceX e a Starship conseguiram hoje em dia é um passo gigante na corrida espacial. E a operação é muito rápida: em versões futuras do foguete, 100 toneladas de carga podem ser lançadas (mais de 200 na Starship 3, segundo Musk) e como o foguete será reutilizável, a parte que pousa nos braços mecânicos será acoplada a outra Starship e... para decolar.
Resta saber quantos ciclos de pouso/decolagem cada foguete é capaz de suportar, mas o primeiro obstáculo já foi superado (duas vezes na mesma semana), então os planos continuarão seguindo seu curso para colocar cinco Starships em Marte a partir de 2026.
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