Em setembro de 2024, uma imagem obtida pelo satélite Sentinel-2 da Agência Espacial Europeia começou a causar estranheza na comunidade internacional. Ela mostra dois navios ancorados lado a lado no Mar Mediterrâneo, cerca de 30 km a nordeste de Port Said, no Egito, entrada do Canal de Suez. Há quem desconfie que a Rússia esteja secretamente montando uma frota de navios-tanque de GNL (gás natural liquefeito).
De acordo com uma investigação da TankerTrackers.com, os navios são os transportadores Pioneer, que está na lista negra dos EUA, e New Energy, que não está sancionado. O primeiro estaria transferindo o gás natural russo para o segundo como forma de burlar as restrições à sua exportação.
Antes de transportar o gás natural, ele é resfriado e armazenado no estado líquido, tornando-se gás natural liquefeito. Os navios que transportam GNL são conhecidos como metaneiros. Eles são muito sofisticados tecnologicamente porque precisam manter centenas de milhares de litros de hidrocarbonetos a uma temperatura de -160 graus Celsius.
O envio de combustível de um navio para outro é uma operação conhecida como transferência navio a navio (ou STS). Trata-se de uma manobra complexa que exige o cumprimento rígido de normas de segurança. Portanto, é raro ocorrer com GNL no Mediterrâneo.
A história
O Pioneer foi colocado na lista negra do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos EUA em agosto de 2024. Esse navio é, juntamente com o navio-tanque de GNL Asya Energy, que também foi sancionado, uma das primeiras duas embarcações a transportar gás natural da nova fábrica russa Arctic LNG 2, que fica no oeste da Sibéria. Quem opera o Pioneer é a indiana Ocean Speedstar Solutions.
Já o New Energy é gerido desde junho por uma empresa chamada Plio Energy Cargo Shipping, embora o seu histórico de propriedade sugira que ele já faz parte de uma frota fantasma, segundo matéria da Bloomberg.
A suspeita é que Moscou estaria desenvolvendo uma frota de navios de GNL debaixo dos panos para evitar sanções dos EUA – estratégia semelhante à que utiliza para transportar petróleo bruto e produtos derivados.
Uma vez concluída a transferência, o New Energy poderá viajar através do Canal de Suez até a Ásia, onde deverá encontrar países dispostos a comprar o gás russo que agora carrega. No entanto, não será fácil rastreá-lo, já que os navios transportadores de combustível muitas vezes escondem a sua localização desligando ou manipulando os seus sistemas de identificação automática.
Imagem | ESA, TankerTrackers
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