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A China tomou uma decisão radical em meio ao declínio da taxa de natalidade: os estrangeiros não poderão mais adotar

Entre 2004 e 2022, mais de 89 mil crianças chinesas foram adotadas em cerca de duas dúzias de países

China não permitirá mais que estrangeiros adotem suas crianças / Imagem: Xataka México
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A crise de natalidade na Ásia não é novidade. Japão, Coreia do Sul e até mesmo Taiwan têm precisado tomar medidas para reverter essa situação. A China, apesar de ser um dos países mais populosos do mundo, também enfrenta esse problema. Entre as iniciativas adotadas, surgiu uma medida bastante peculiar: a suspensão de seu programa de adoções.

Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, foi a responsável por anunciar essa nova política. Com isso, o gigante asiático deixará de autorizar adoções internacionais de crianças chinesas. A única exceção será para estrangeiros que desejem adotar enteados ou filhos de parentes consanguíneos.

O The Guardian revelou que o governo chinês resolveu cancelar todos os processos em que estrangeiros possam adotar bebês chineses. Isso colocou em uma situação difícil aqueles que já haviam iniciado o procedimento. Por sua vez, o The New York Times reportou que muitas famílias não sabiam como essa mudança as afetaria.

Desde 1992, a China tem se destacado como líder nos processos de adoção internacional, com cerca de 160 mil crianças adotadas naquela década. O país se tornou uma das principais nações nesse tipo de trâmite, até que a pandemia de COVID-19 interrompeu o fluxo de adoções.

Para exemplificar, entre 2004 e 2022, mais de 89 mil crianças chinesas foram adotadas em cerca de duas dúzias de países, segundo o Wall Street Journal. Os EUA se destacam como o principal destino, com mais de 82.600 adoções de crianças chinesas. O pico foi registrado em 2005, com aproximadamente 8 mil casos.

Mas tudo isso tem um contexto que remonta a décadas atrás. No final dos anos 70, devido à preocupação com o rápido crescimento demográfico, Pequim adotou a medida do filho único. Isso aconteceu porque a população do país se aproximava da marca de um bilhão de habitantes, o que também gerou uma preocupação com as possíveis consequências econômicas.

Nos anos 90, o governo endureceu as normas. Restringiu os acordos informais que permitiam aos pais com mais de um filho transferir a responsabilidade pela criação para parentes ou outras famílias, a fim de contornar a política. Essas medidas resultaram em um aumento significativo de crianças nos orfanatos. Como resultado, as adoções por pais estrangeiros se tornaram mais comuns.

A situação atual é completamente diferente. Em 2023, a China perdeu cerca de 2,1 milhões de habitantes e registrou 9,02 milhões de nascimentos, o número mais baixo desde o início dos registros. O balanço demográfico de 2024 também foi negativo, o que evidencia uma diminuição cada vez mais rápida da população.

Além disso, segundo dados da Statista, houve uma redução significativa no número de órfãos na China: de 570.000 em 2012 para 158.000 há dois anos. Essa mudança no panorama demográfico levou as autoridades chinesas, há alguns anos, a cancelar a política do filho único.

"De certa forma, é o fim de uma era e o fechamento de um dos capítulos mais vergonhosos das três décadas e meia de engenharia social conhecida como a política do filho único. O governo chinês criou o problema e depois não conseguiu lidar com as limitações financeiras, por isso permitiu a adoção estrangeira como último recurso."
 — Wang Feng, professor de sociologia da Universidade da Califórnia para o NYT.

No entanto, desde o anúncio, não houve atualizações por parte do governo de Xi Jinping sobre os detalhes dessa decisão. Da mesma forma, também não foi especificado como a política será implementada e qual impacto ela terá nas adoções que estão atualmente em processo.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka México.

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