Havia um dado faltando sobre a incursão da Coreia do Norte no conflito entre Ucrânia e Rússia. Enquanto os últimos esforços da Ucrânia pareciam estar focados em convencer as tropas de Pyongyang a se renderem em troca de uma nova vida longe do regime, não havia nenhuma foto ou imagem que comprovasse isso. Na verdade, até meados de dezembro, a Coreia do Norte não havia entrado no conflito. Agora sim, é oficial, embora de forma acidental.
As primeiras baixas
A inteligência militar ucraniana (GUR) divulgou a informação, depois confirmada pelo Pentágono e por vários vídeos. As tropas norte-coreanas, enviadas pela Rússia para reforçar suas forças na região de Kursk, sofreram as primeiras e importantes baixas em confrontos recentes, com pelo menos 30 soldados feridos ou mortos. Um desdobramento que marca uma virada significativa após meses de especulação sobre o papel que os norte-coreanos desempenhariam no conflito.
De acordo com o Washington Post, as baixas norte-coreanas estão concentradas perto das aldeias russas de Plekhovo, Vorobzha e Martynovka. O GUR também informou que pelo menos três soldados estão desaparecidos perto de Kurilovka. Embora o número atual de tropas norte-coreanas em Kursk varie entre 8.000 e 11.000, outro batalhão está na região russa de Bélgorod, com possibilidade de ser deslocado para Kursk ou para uma frente diferente, como Kharkiv.
Impacto da inexperiência
Conforme informado pela Ucrânia por meio de vários vídeos, foi observado um comportamento peculiar nas tropas norte-coreanas, que avançam em grandes grupos a campo aberto, tornando-se alvos fáceis para drones FPV, artilharia e outras armas ucranianas. Diferentemente das tropas russas, que se deslocam em formações menores e se escondem perto de linhas de árvores para minimizar sua exposição, os norte-coreanos parecem não compreender as táticas modernas de campo de batalha.
Comandantes ucranianos, como o operador de drones identificado como "Boxer", relataram ao Washington Post cenas surpreendentes de 40 a 50 soldados correndo por campos abertos sem proteção, uma situação descrita como "um alvo perfeito" para armas de precisão. Esses soldados norte-coreanos, identificados como inexperientes e descoordenados, enfrentam dificuldades adicionais devido à barreira do idioma.

Fogo amigo
A falta de comunicação levou até a incidentes de fogo amigo, como quando tropas norte-coreanas atacaram veículos do batalhão Akhmat de combatentes chechenos, causando a morte de pelo menos oito deles, segundo a inteligência ucraniana. Embora existam laços entre Rússia e Coreia do Norte, as diferenças idiomáticas entre as tropas se mostraram um obstáculo crítico.
A inteligência ucraniana indicou que a falta de intérpretes gerou caos, com um único tradutor designado para cada 30 soldados norte-coreanos. Essa situação dificultou a integração operacional e levou a incidentes como o recente ataque aos veículos russos. Para o especialista em defesa norte-coreana, Joseph S. Bermudez Jr., conduzir operações de combate com forças aliadas que não compartilham um idioma comum "apresenta sérios problemas". Embora os soldados norte-coreanos tenham sido dispersos entre várias unidades russas, sua comunicação limitada com as tropas locais resultou em decisões erráticas e, nesse caso descrito anteriormente, mortais.
Provas visuais e acobertamento
O presidente ucraniano Zelensky também compartilhou imagens de drones no Telegram mostrando soldados norte-coreanos se cobrindo atrás de árvores durante um ataque a posições ucranianas. Além disso, denunciou que as forças russas estão tentando ocultar a presença norte-coreana ao queimar os rostos dos mortos no campo de batalha. Zelensky criticou duramente a participação da Coreia do Norte no conflito, afirmando que "não há uma única razão para que os norte-coreanos morram nesta guerra", classificando sua participação como "um sintoma da loucura de Putin". Por sua vez, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, confirmou as baixas significativas sofridas por essas tropas e destacou que seu envio reflete o desespero do Kremlin.
Além disso, as mortes norte-coreanas provocaram uma forte condenação da União Europeia e de países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Coreia do Sul, classificando a participação de Pyongyang como uma "expansão perigosa" com graves consequências para a segurança na Europa e na região do Indo-Pacífico. Paralelamente, o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou novas sanções contra nove pessoas e sete entidades vinculadas ao apoio financeiro e militar ao regime norte-coreano.
Importância estratégica do desdobramento norte-coreano
Não há dúvida de que o uso de tropas norte-coreanas não só reforça as operações russas a curto prazo, mas também simboliza um fortalecimento estratégico da relação entre Moscou e Pyongyang. Além do envio de soldados, a Coreia do Norte forneceu milhões de projéteis de artilharia à Rússia, enquanto, em troca, especula-se que receberá tecnologias avançadas para melhorar seus programas nuclear, balístico e submarino.
Esse intercâmbio despertou preocupação internacional, com países ocidentais alertando sobre suas implicações para a segurança na Europa e na Península Coreana.
Kursk como símbolo
Desde que a Ucrânia iniciou a ofensiva em Kursk no mês de agosto, capturando uma grande porção de território inicialmente pouco defendido, as forças russas lançaram duas contraofensivas para recuperar parte da área. No entanto, o combate parece ter estagnado no final do ano devido ao clima invernal, com poucos avanços de ambos os lados. Nesse contexto, a participação norte-coreana oferece à Rússia uma possível vantagem numérica, embora limitada pela falta de preparação e efetividade no terreno.
O que parece claro agora é que a Coreia do Norte entrou de fato no campo de batalha, marcando um novo capítulo na guerra entre Rússia e Ucrânia, com implicações que transcendem o conflito.
Imagem | Twitter
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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