Em 1975, o psicólogo húngaro Mihály Csíkszentmihályi estudou os motivos pelos quais, em determinados momentos, as pessoas parecem entrar em uma espécie de "transe de produtividade", nos quais somos capazes de concluir as tarefas designadas quase sem perceber — ao passo que, em outras ocasiões, caímos na procrastinação.
Csíkszentmihályi estabeleceu que ser produtivo não é como pular numa piscina e começar a mover os braços. Em vez disso, é algo que se assemelha mais a um estado de fluxo, no qual o cérebro parece subir em uma prancha e surfar nas ondas, concluindo tarefas ao longo do caminho.
O psicólogo publicou sua teoria do "fluxo" no livro Flow: A Psicologia da Experiência Ótima, de 1990. A obra, que foi traduzida para mais de 20 idiomas, consagrou as ideias desse pensador sobre a produtividade.
Fluxo: a produtividade é um estado mental
As descobertas de Csíkszentmihályi e pesquisas posteriores estabeleceram que, para conseguir alcançar esse estado de fluxo, devem existir três elementos: condições de concentração, conhecimento da tarefa a ser concluída e motivação para realizá-la.
Sem algum desses três ingredientes, não é possível alcançar esse estado mental. A explicação é simples: você pode ter uma grande motivação para completar uma tarefa, mas, se não tiver os conhecimentos necessários para realizá-la, sua concentração se dissipará ao pedir ajuda a um colega ou ao aprender como fazê-la.
Da mesma forma, você pode ter o conhecimento para resolver a tarefa, mas não a motivação ou a concentração necessárias para concluí-la. Assim, a tarefa será finalizada, mas não com a rapidez que o "estado de fluxo" proporciona.
Transformar uma tarefa rotineira em um desafio
David Melnikoff, especialista em produtividade e professor assistente de comportamento organizacional na Stanford Graduate School of Business, realizou algumas pesquisas nesse campo para tentar estabelecer um padrão sobre como e por que o cérebro entra nesse estado mental de fluxo produtivo.
Melnikoff detectou que, para ser altamente produtivo, você só precisa pegar uma situação incerta e descobrir como exercer certo controle sobre ela. Em uma entrevista à CNBC, o cientista estabeleceu um paralelo com puxar a alavanca de uma máquina caça-níqueis. Ao puxar a alavanca, um resultado incerto se transforma em um certo. "As redes sociais são outra roleta emocional. Quando rolamos a página, estamos girando a roda para reduzir nossa incerteza sobre a pergunta: como me sentirei a seguir?", afirmou ele.
O especialista recomenda aplicar um conceito semelhante para se tornar mais produtivo, adicionando um certo grau de incerteza às tarefas. Por exemplo: em vez de limpar sua caixa de entrada durante o expediente, tente adicionar um componente de incerteza e gamificação, atribuindo um bloco de tempo de 15 minutos para essa tarefa e tentando responder ao máximo de e-mails possível. No dia seguinte, repita a operação, tentando superar sua marca do dia anterior.
"Se você quer fomentar o fluxo na sua vida, precisa realmente tentar representar mentalmente ou enquadrar suas tarefas de maneira que seus resultados sejam o mais incertos possível, para que, ao tomar medidas, você possa reduzir o máximo de incerteza possível", afirmava Melnikoff.
O especialista destaca que evitar se fazer perguntas cujas respostas sejam "sim" ou "não" também pode contribuir para alcançar o estado mental de fluxo. Por exemplo, em vez de se perguntar se será possível completar 12 tarefas da sua lista, é melhor se desafiar a ver quantas tarefas você consegue concluir nas próximas duas horas ou no dia de hoje.
Com a primeira abordagem, a resposta seria um "sim" ou "não". Com a segunda, adiciona-se o componente da incerteza, e só ativando a alavanca da motivação se obtém uma resposta. Pode ser que você complete as 12 tarefas, ou talvez cinco ou 15. "O que você deve fazer é pensar no número de palavras como um resultado contínuo que pode ser qualquer coisa, de zero a milhares, em vez de um resultado binário de sucesso ou fracasso que só tem duas opções e, portanto, é muito seguro", aponta o especialista em psicologia.
Não é uma maratona, são sprints
David Melnikoff destaca que, como a capacidade de concentração do cérebro é limitada, é aconselhável agrupar essas "provas de incerteza" para incentivar o estado de fluxo em períodos de curta duração. Ou seja, organizar o dia e as tarefas como se fossem sprints de velocidade, e não como uma grande maratona que dure o dia todo.
Ao apresentar as tarefas como desafios abertos, é mais fácil para o cérebro entrar em um estado mental de fluxo, concentrando-se em completar o maior número de desafios. Se você estabelecer um único desafio para o dia todo, não vai conseguir manter esse estado de alta produtividade.
Por isso, o especialista recomenda definir vários desafios ao longo do dia para mudar o objetivo a curto prazo. Dessa forma, o interesse se renova e evita-se cair na rotina.
Imagem | Unsplash ( Andreas Klassen)
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