A guerra entre Rússia e Ucrânia está sendo marcada pelo combate de drones de ataque: esses artefatos, inicialmente considerados ferramentas auxiliares, tornaram-se armas predominantes no campo de batalha, com ambos os lados produzindo mais de um milhão de unidades em 2024.
A noite desta terça-feira, 11 de março, foi marcada pelo maior ataque de drones da história, quando a Ucrânia lançou 337 drones contra alvos russos, 91 deles na capital Moscou, matando três pessoas e deixando 18 feridos. Assim como em outros ataques prévios, os alvos eram prédios e instalações considerados essenciais para a operação de guerra russa.
Ainda não se sabe qual tipo de drone a Ucrânia usou no ataque, mas o país, até onde se sabe, possui dois modelos em operação: os drones de ataque unidirecional (OWA, na sigla em inglês), também conhecidos como drones kamikaze, porque explodem ao atingir o alvo; e os veículos de combate, inteligência, vigilância e reconhecimento, que disparam artefatos explosivos.
Na América Latina
Desenvolvidos e produzidos pelo Irã, os drones de combate Mohajer não figuram entre os mais potentes disponíveis no mundo. Embora seja um sistema eficaz para missões de vigilância, reconhecimento e ataques de precisão, especialmente em contextos de defesa regional, sua capacidade destrutiva e de alcance está abaixo de drones de combate mais avançados, como o MQ-9 Reaper, dos EUA, que é amplamente considerado um dos drones de combate mais poderosos.
Ainda assim, o Mohajer está mais próximo de nós do que os drones americanos, pois um de nossos vizinhos conta com ele em seu arsenal: a Venezuela.
Em 5 de julho de 2022, o mundo assistiu com estarrecimento quando as Forças Armadas do país, em comemoração ao Dia da Independência, desfilaram com dois modelos de drone com capacidade ofensiva. Era a confirmação de que a Venezuela era o primeiro (e, até agora, único) país de todo o continente, além dos EUA, a possuir esse tipo de armamento.
Mas não é como se não houvesse desconfianças: em fevereiro daquele mesmo ano, um ataque das Forças Armadas contra um agrupamento das guerrilhas Farc contou com drones armados. Naquela ocasião, o governo não confirmou que tinha de fato usado drones - essa informação só veio com o desfile.
De onde esses drones vieram?
Segundo o narrador do desfile, os dois drones expostos eram de design e origem venezuelana, batizados de Antonio José de Sucre 100 (ANSU 100) e Antonio José de Sucre 200 (ANSU 200). O primeiro foi apresentado como um veículo para "observação, reconhecimento e ataque", enquanto o segundo seria para "velocidade, alto sigilo e capacidade de observação, reconhecimento, ataque, caça antidrones e supressão da defesa aérea inimiga".
No entanto, especialistas apontam que os drones, na verdade, são versões modernizadas do modelo Mohajer-2, copiando algumas ideias do Mohajer-6, sua versão mais recente. Esse ocorrido consolida a parceria entre Venezuela e Irã, que já vem desde o começo do século.
Em 2007, os dois países assinaram um acordo para que fossem montados no país latino 12 unidades do Mohajer-2, a partir de partes e peças fornecidas pela Força Quds da Guarda Revolucionária do Irã. Os aparelhos começaram a ser montados em 2009 pela Cavim, a estatal venezuelana responsável pela produção de armas e munições.
O presidente, nessa época, era Hugo Chávez. Em 2012, ainda sob sua batuta, o governo venezuelano chegou a afirmar que o Irã estava colaborando com a defesa do país para o desenvolvimento de aeronaves de defesa não tripuladas. O Irã, no entanto, negou que estivesse fornecendo drones militares a aliados. E em 2020, o presidente Nicolás Maduro anunciou que a Venezuela pretendia criar seus próprios drones como uma busca pela “independência tecnológica” do país.
Os Mohajer 2 utilizados pela Venezuela foram modernizados e armados no país pela Empresa Aeronáutica Nacional, S.A. (Eansa), daí a renomeação para ANSU 100 e ANSU 200. Mas as ambições do país não param por aí.
O futuro
Em abril do ano passado, as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB), principal força de defesa da Venezuela, apresentaram o Zamora V-1, um drone de ataque baseado no iraniano Shahed-136. O Zamora V-1 possui características como comprimento e envergadura de 1,5 metros, peso total de 35 quilos, velocidades entre 120 e 150 km/h, alcance de até 30 quilômetros, altitude máxima de voo de 2.000 metros e autonomia de até 4 horas.
O Shahed-136 é projetado principalmente para ataques kamikaze, ou seja, para colidir diretamente com o alvo e causar danos significativos. Ele não é tão letal quanto um míssil ou uma bomba, mas sua carga explosiva de 50 kg e o impacto direto no alvo tornam-no bastante eficaz em ataques a instalações estratégicas e militares, como pontes, depósitos de munição e infraestruturas de energia, entre outros.
O Zamora V-1 é uma versão menor do Shahed-136, portanto mais barata e fácil de produzir.
Devemos nos preocupar?
A parceria entre Irã e Venezuela faz sentido dentro de um contexto geopolítico, pois ambos os países possuem um inimigo em comum: os EUA. O governo americano considera que os regimes nos dois países são autoritários e impõe sanções comerciais a ambos.
Portanto, o armamento com os drones e outras tecnologias tem o objetivo de mandar uma mensagem aos EUA de que o país estará preparado em caso de conflito armado. Além disso, dentro das fronteiras, é uma ferramenta para o governo combater opositores, algo que vai muito além das Farc e inclui movimentos estudantis, ONGs, entidades civis e até mesmo sindicatos.
O Brasil não seria um alvo da Venezuela, pelo menos não em um primeiro momento. Nosso país mantém boas relações com o vizinho, especialmente com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder em 2023, que voltou a estreitar diplomaticamente os laços entre os dois países, após um afastamento durante a gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022).
Imagem: Wikimedia Commons
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