Taiwan não quer mais problemas com a China ou seus cabos submarinos; então ativou um plano de segurança sem precedentes

Taiwan não pode garantir a segurança de seus cabos submarinos de maneira isolada, e por isso ativou um plano integral

Taiwan recorre aos EUA para fortalecer sua segurança / Imagem: 總統府
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

No início deste ano, após o incidente com um cabo submarino que afetou o único link restante com as ilhas Matsu, ocorrido apenas uma semana depois de outro cabo que conectava a ilha ser danificado, Taiwan tomou uma decisão sem precedentes. Uma ligação a Washington resultou em um acordo de dois anos para que o exército dos Estados Unidos desembarcasse na ilha e treinasse a marinha taiwanesa. E este é só o começo do plano.

Proteger os cabos como prioridade

A infraestrutura de cabos submarinos é o pilar da conectividade global da maioria das nações, e ainda mais para uma ilha como Taiwan, um território que depende quase que exclusivamente desses sistemas para garantir a comunicação de seus cidadãos, empresas e instituições governamentais.

Para termos uma ideia, qualquer interrupção severa nesses links não só poderia deixar a população incomunicável, afetando o acesso a serviços essenciais como aplicativos móveis e plataformas digitais, mas também teria um impacto crítico nas operações econômicas e governamentais. O problema é que a fragilidade desses sistemas foi evidenciada pela crescente frequência de incidentes nos cabos que conectam o território às suas ilhas periféricas e ao mundo, o que elevou as preocupações sobre a segurança e a resiliência dessa infraestrutura chave.

Frequência alarmante de falhas

Globalmente, os mais de 450 sistemas de cabos submarinos existentes enfrentam danos em uma faixa de 0,1 a 0,2 incidente por cabo por ano, o que equivale a entre 50 e 100 falhas anuais em todo o mundo. No entanto, a situação em Taiwan é excepcionalmente crítica. Os cabos que conectam as ilhas periféricas de Matsu com a ilha principal sofrem uma média de 5,1 interrupções anuais, o que representa uma frequência até 50 vezes superior à média global. Esse dado destaca o nível de vulnerabilidade das comunicações e a necessidade urgente de implementar medidas de proteção.

No dia 22 de janeiro passado, os dois cabos submarinos que conectam Matsu com Taiwan ficaram desconectados, o que deixou a ilha isolada digitalmente. Segundo o Ministério de Assuntos Digitais de Taiwán (MODA), a causa foi uma "deterioração natural". E não foi um caso isolado: apenas algumas semanas antes, em 3 de janeiro, um cabo de comunicações ao norte da ilha principal, operado pela Chunghwa Telecom, também foi cortado, presumivelmente por um barco tripulado por cidadãos chineses. A embarcação em questão, o Shunxing 39, estava registrada em Camarões e Tanzânia, o que complica a atribuição direta do ataque.

Estratégias para fortalecer a segurança

O resultado da situação foi ativar um plano sem precedentes, com medidas para reforçar a segurança de seus cabos submarinos. Por exemplo, os operadores de telecomunicações implementaram patrulhas marítimas com o objetivo de alertar as embarcações pesqueiras que se aproximam de zonas sensíveis. Além disso, a Guarda Costeira de Taiwán intensificou a vigilância por meio de sistemas de rastreamento para monitorar embarcações em áreas críticas.

Para melhorar a redundância nas comunicações, o MODA implementou um programa de subsídios para incentivar a construção de novas estações de aterrissagem de cabos internacionais e a instalação de sistemas de backup. Além disso, Taiwán apostou na diversificação de seus sistemas de comunicação por meio de satélites.

Nesse sentido, o governo firmou acordos com a empresa europeia SES para o lançamento de satélites de órbita média (MEO) e com a OneWeb para a inclusão de satélites de órbita baixa (LEO). Todas essas medidas têm como objetivo garantir a continuidade das comunicações governamentais e militares em caso de emergência.

Desafios legais para proteger os cabos

Um dos principais obstáculos na proteção dos cabos submarinos é a complexidade da legislação internacional sobre essas infraestruturas. De acordo com as leis marítimas internacionais, se um dano ocorrer dentro das águas territoriais de um país, ele pode exercer jurisdição sobre o incidente.

O problema é que, se o dano ocorrer em uma zona econômica exclusiva ou em águas internacionais, a responsabilidade recai sobre o país onde a embarcação suspeita está registrada. Esse quadro legal gera barreiras significativas para a investigação e a punição dos responsáveis por sabotagens deliberadas.

Em resposta a esses desafios, Taiwan tomou medidas legislativas para penalizar os ataques intencionais contra seus cabos submarinos. As sanções incluem penas de prisão de um a sete anos, além de multas que podem atingir 10 milhões de dólares taiwaneses (aproximadamente R$ 1,7 milhão).

Acordo com os Estados Unidos

O Ministério da Defesa de Taiwan anunciou um acordo de dois anos com os Estados Unidos para treinar a marinha taiwanesa em um contexto onde o parlamento da ilha se prepara para votar possíveis cortes no orçamento destinado a treinamentos militares no exterior. O acordo, avaliado em cerca de 50 milhões de dólares taiwaneses (R$ 8,6 milhões), estipula que uma equipe da Marinha dos Estados Unidos será enviada a Taiwan para realizar um programa especializado de treinamento naval.

As sessões de treinamento, inicialmente, ocorrerão na sede da Marinha e do corpo de fuzileiros navais de Taiwan, localizada no distrito de Zuoying, perto da cidade de Kaohsiung, no sul do país. Trata-se, portanto, da primeira vez na história que o Ministério da Defesa taiwanês reconhece publicamente a presença de treinadores militares dos Estados Unidos.

Resiliência regional

Os numerosos casos nos últimos meses deixaram isso claro. A proteção dos cabos submarinos, e mais especificamente em Taiwan, não é apenas um problema nacional, mas uma questão de segurança regional. Qualquer interrupção nessas infraestruturas pode afetar seus países vizinhos, o que reforça a necessidade de estabelecer alianças estratégicas para prevenção e reparação de danos.

A esse respeito, Taiwan visa trabalhar de forma estreita com seus parceiros na Ásia para fortalecer as capacidades de reparação de cabos, melhorar a logística e desenvolver tecnologias avançadas de monitoramento.

Imagem | 總統府

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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