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Uma imagem da NASA revelou o mais recente projeto dos EUA: transformar uma ilha abandonada em uma base global de transporte de armas

A retomada do Atol de Johnston reflete a crescente importância da logística ultrarrápida nos conflitos modernos

Atol de Johnston será reativado para testes com foguetes / Imagens: NASA
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

No final de fevereiro, imagens de satélite revelaram algo que não havia sido divulgado publicamente. Washington estava restaurando a base no Pacífico que lançou o bombardeio atômico sobre o Japão, uma ação nada trivial com a qual os Estados Unidos anteviam um possível cenário de conflito. Agora, novas imagens em outro ponto do Pacífico reforçam a teoria de que a base está mesmo sendo reativada. Um atol transformado em uma espécie de “Amazon” para envio de artilharia a todo o planeta.

Projeto Rocket Cargo

A Força Espacial dos Estados Unidos autorizou a reativação do Atol de Johnston, uma ilha remota no Pacífico com um histórico sombrio de testes nucleares e armazenamento de armas químicas. A ideia? Convertê-lo em um local de testes para transporte de carga por foguete sob o programa Rocket Cargo Vanguard. O projeto busca desenvolver a capacidade de transportar suprimentos militares para qualquer ponto do planeta em questão de horas, utilizando foguetes de grande capacidade.

A Notificação de Intenção (NOI) publicada pelo Departamento da Força Aérea em março confirma a construção de duas plataformas de pouso na ilha e a realização de até 10 testes de aterrissagem por ano durante quatro anos. Espera-se que os testes comecem ainda este ano, dependendo dos resultados da avaliação ambiental em andamento.

A análise do Departamento da Força Aérea identificou o Atol de Johnston como o único local adequado para esse tipo de testes. Outros locais avaliados, como o Atol de Kwajalein, a Ilha Midway e a Ilha Wake, foram descartados por diversas razões operacionais. O Atol de Johnston, por sua vez, foi escolhido por ser um território remoto, sob controle do governo dos Estados Unidos, com acesso marítimo e aéreo, e por sua capacidade de receber e armazenar equipamentos transportados por foguetes.

Um bônus: a localização da ilha a torna menos vulnerável a eventos climáticos extremos, uma preocupação importante depois que Kwajalein sofreu danos severos devido a tempestades no ano passado.

A ilha vista pelos satélites da Nasa A ilha vista pelos satélites da Nasa

Um passado sombrio

O Atol de Johnston tem um histórico militar altamente polêmico. O local foi utilizado como base de reabastecimento naval, pista de pouso e centro de testes nucleares, biológicos e químicos. Entre os eventos mais notórios, destacam-se os testes nucleares na atmosfera entre 1958 e 1975, incluindo o teste Starfish Prime em 1962, a maior explosão nuclear já realizada no espaço. A ilha também foi usada como depósito de armas químicas e biológicas e como centro de sua destruição até 2003, quando foi finalmente abandonada pelo Exército dos Estados Unidos após a conclusão da limpeza dos contaminantes.

Apesar de seu status atual como Refúgio Nacional de Vida Selvagem e parte do Monumento Nacional Marinho do Patrimônio das Ilhas do Pacífico, imagens de satélite revelam que a ilha ainda abriga infraestrutura militar abandonada, como uma pista de pouso de 2,7 km e outras instalações que serão reutilizadas.

Uma revolução para a logística militar

Essa é a grande proposta. O programa Rocket Cargo Vanguard, liderado pelo Laboratório de Pesquisa da Força Aérea (AFRL), busca testar a viabilidade do uso de foguetes comerciais para o transporte global de suprimentos militares. Desde pelo menos 2020, o Pentágono vem explorando essa tecnologia com a ideia de reduzir os tempos de entrega de dias ou semanas para apenas algumas horas.

O conceito envolve o uso de foguetes reutilizáveis para transportar até 100 toneladas de carga ou até mesmo pessoal para locais estratégicos ao redor do mundo, utilizando trajetórias orbitais ou suborbitais.

E aqui surge um nome crucial. Um dos principais candidatos para o programa é o foguete Starship, da SpaceX, o maior e mais poderoso já construído. Em 2022, a SpaceX recebeu um contrato de 102 milhões de dólares para fornecer dados de voo e testar tecnologias para o transporte de carga e ajuda humanitária.

No entanto, até o momento, os testes da Starship tiveram resultados mistos, com várias explosões durante as tentativas de lançamento. Apesar disso, o Pentágono demonstrou grande interesse em adquirir sistemas de lançamento da SpaceX para missões sensíveis e de alto risco. O general Philip Garrant, comandante do Space Systems Command, declarou em novembro que o uso da Starship no programa Rocket Cargo é uma das opções mais lógicas, principalmente devido à sua grande capacidade de carga e seu design reutilizável.

Perspectivas futuras e expansão

A aprovação da avaliação ambiental no próximo mês pode abrir caminho não apenas para os testes do Rocket Cargo Vanguard, mas também para a reativação total do Atol de Johnston como um centro de pouso para outros veículos espaciais reutilizáveis.

É possível dizer que isso está quase garantido, considerando que há pouquíssimos locais nos Estados Unidos capazes de abrigar operações de pouso de foguetes dessa escala. Sem dúvida, caso a ilha seja aprovada, ela poderá se tornar um ativo estratégico crucial para a Força Espacial dos Estados Unidos no desenvolvimento de infraestrutura espacial reutilizável. Além disso, não será algo trivial: um centro logístico global e ultrarrápido para reabastecer artilharia em tempo recorde diante do surgimento de qualquer conflito moderno.

Imagem | NASA

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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