O homem que caiu na Terra: Joseph Kittinger foi o primeiro a saltar do espaço e marcou recorde de quase 50 anos

O grande salto de Kittinger foi um pequeno passo importante na corrida espacial

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Igor Gomes

Subeditor

Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

A frase “um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade” ficou famosa ao ser pronunciada por Niel Armstrong durante o pouso na Lua. Mas se invertida, ela também serve para outro capítulo da corrida espacial dos Estados Unidos. Em 1960, Joseph Kittinger, capitão da Força Aérea dos Estados Unidos saltou de paraquedas uma altura de 19 milhas, o equivalente a 30 quilômetros, acima do estado de Novo Méico. A façanha não foi feita apenas pelo pico de adrenalina, mas para solucionar um problema que podia custar a vida de outros pilotos.

O problema

Antes de 1960, a Força Aérea dos Estados Unidos tinha um problema muito sério. Os pilotos que eram ejetados de caças e outros aviões em grandes alturas tinham poucas chances de sobreviver. Em entrevista para a PBS, Kittinger explicou: “Estávamos fazendo pessoas saltarem de aviões em grandes altitudes e eles estavam acabando girando e tivemos algumas fatalidades por causa disso. Claro que os aviões subiam cada vez mais alto o tempo todo e quanto mais alto íamos, mais giravam”.

Para chegar a uma solução, vários bonecos foram jogados de grandes alturas para determinar até que velocidade eles poderiam chegar. O máximo registrado foi de 200 RPM, o que seria fatal para qualquer piloto. A partir daí, Kittinger começou a procurar uma solução.

A solução

Para resolver o problema, foi criado o programa Excelsior, dentro do Aero Med Lab, laboratório de estudos médicos dentro da Aeronáutica norte-americana. A ideia de Kittinger era colocar um paraquedas inicial que ajudasse a estabilizar os pilotos para que eles não girassem enquanto desciam até a altura em que poderiam abrir os paraquedas final. “A razão pela qual você não abre o paraquedas imediatamente, o que obviamente evitaria que ele girasse, é que [..] não há pressão ali. É uma temperatura muito fria. […] Se um homem abrisse seu paraquedas, levaria de 30 a 40 minutos para descer. Ele ficaria congelado”, afirma.

Foi então que um colega paraquedista sugeriu um paraquedas drogue, que ajudaria a estabilizar o voo antes de alcançar a altura para abrir o principal. “Eu tive um engenheiro brilhante, um engenheiro de paraquedas que teve a ideia de usar um drogue paraquedas, que, depois que o cara saltasse do avião, se abriria e lhe daria estabilidade para uma altitude mais baixa. […] Um drogue paraquedas tinha cerca de um metro e meio de largura e era preso com uma linha até o homem e  dava estabilidade suficiente para queda livre. Para evitar que você girasse”, relembra. Para testar sua solução, Kittinger chegou a alturas que ninguém jamais havia alcançado antes.

O primeiro teste foi quase fatal

Joseph Kittinger No Salto Excelsior I

O salto de paraquedas a 30 km de altura foi o mais alto por 60 anos, perdendo o posto apenas em 2012, quando Felix Baumgartner saltou de um balão na estratosfera a 39 km de altura. Mas a marca de Kittinger não foi alcançada no primeiro teste do paraquedas drogue. Na primeira tentativa, em novembro de 1959, ele saltou a mais de 23 km de altura. Um defeito no equipamento fez com que o capitão desmaiasse e ficasse inconsciente em queda livre por mais de 13 km. Um kit que possuía câmera, regulador de oxigênio, equipamento de sobrevivência, entre outras coisas, ficou preso ao banco da plataforma, prendendo Kittinger e atrasando seu salto.

O problema é que a abertura do paraquedas drogue era cronometrada e ele perdeu tempo se desvencilhando. Quando finalmente conseguiu se soltar e pular, faltavam dois segundos para a abertura, o que era pouco tempo de queda para atingir a altura onde o paraquedas drogue funcionaria. Com a baixa pressão, o dispositivo  se emaranhou e prendeu no pescoço de Kittinger, que começou a girar e perdeu consciência. Ele só recuperou a consciência quando o paraquedas reserva abriu, a 3 km de altura.

Apesar dos problemas e de o paraquedas drogue não ter funcionado como deveria, Kittinger diz que esse primeiro salto foi importante para provar a necessidade dessa invenção. “Demonstramos que um homem que recebe a proteção correta com um drogue paraquedas pode sobreviver a uma ejeção de altitude extremamente alta.”

O segundo e o terceiro salto

Kittinger Na Subida Para O Terceiro Salto

O salto de Kittinger em 1960 provou que a invenção funcionava, mas o equipamento precisava de ajustes. Depois de alterar o kit de ferramentas para que o piloto não ficasse preso e outros problemas fossem solucionados, um segundo salto foi feito em dezembro de 1959. O salto final, que alcançou o recorde, foi feito em agosto de 1960. Depois de chegar a 31 km de altura, Kittinger deu “o maior passo do mundo” e pulou para uma queda livre chegando a mais de mil quilômetros por hora. O paraquedas drogue abriu 16 segundos depois do salto e o manteve estável. A 25 km de altura, o paraquedas principal abriu.  Então dois helicópteros o acompanharam até o pouso. Treze minutos depois de saltar, Kittinger chegou ao solo com segurança.

O feito icônico ficou marcado na história. Sendo superado apenas por Félix Baumgartner em 2013. O salto de Kittinger pode ser assistido na íntegra no clipe da música Davyan Boy, da dupla de música eletrônica Boards of Canadá.

Fotos: US Air Force

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