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Nave espacial Starliner não é apenas humilhante para Boeing: é poço sem fundo de dinheiro que nunca será recuperado

  • O contrato da NASA com a Boeing tinha preço fixo

  • A Boeing perdeu US$ 1,6 bilhão na espaçonave Starliner, e isso vai piorar

Starliner E Uma Vergonha Para A Boeing
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Em 2014, há 10 anos, a NASA concedeu contratos de preço fixo à SpaceX e à Boeing para desenvolver duas espaçonaves capazes de transportar astronautas para a Estação Espacial Internacional.

A indústria espacial estava acostumada a contratos nos quais a NASA assumia todas as despesas, bem como um pagamento adicional para obtenção de lucro. Com o objetivo de incentivar a inovação, desta vez a NASA pediu às empresas que colocassem um preço em seus desenvolvimentos e assumiu o risco de quaisquer estouros de orçamento.

A SpaceX e a Boeing venceram a licitação pública ao derrotar as opções da Blue Origin e da Sierra Space. A SpaceX recebeu US$ 2,6 bilhões pelo desenvolvimento da Crew Dragon, uma espaçonave baseada na Dragon de carga que tinha acabado de ser testada com sucesso. A Boeing recebeu US$ 4,2 bilhões por uma nova espaçonave, a CST-100 Starliner.

O programa sob o qual os dois contratos foram assinados foi chamado de Commercial Crew Program: a espaçonave seria de propriedade e operada por seus fabricantes, mas forneceria à NASA o transporte de até quatro astronautas como um serviço comercial.

A SpaceX venceu há muito tempo

Cada contrato exigia quatro demonstrações para certificação de voo comercial da NASA: um teste de escape de emergência na plataforma de lançamento, um teste de voo orbital não tripulado, um teste de escape de emergência no meio do lançamento e um teste de voo orbital tripulado.

Ambas as espaçonaves deveriam ter concluído esses testes e começado a operar em 2017, mas eles foram adiados várias vezes, forçando a NASA a comprar assentos adicionais da Rússia em suas cápsulas Soyuz.

A SpaceX concluiu a última demonstração da espaçonave Crew Dragon em 2020, lançando os astronautas Bob Behnken e Doug Hurley para a Estação Espacial Internacional e trazendo-os de volta com sucesso. Desde então, ela voou 12 vezes, oito delas para a NASA, que faz uma rotação de astronautas a cada seis meses.

Já a Starliner continua atrasada até hoje. Seu primeiro voo não tripulado ocorreu em 2019, mas não chegou à Estação Espacial Internacional devido a uma falha de software: o cronômetro da missão saiu de sincronia e os motores queimaram o combustível prematuramente. A aeronave ficou então encalhada por meses em razão de válvulas corroídas que a Boeing eventualmente redesenhou.

A Starliner é uma ruína para a Boeing

Starliner

Em 2022, a Boeing finalmente conseguiu levar a aeronave para a estação espacial, mas um problema com paraquedas e novas válvulas defeituosas atrasaram o primeiro teste tripulado até junho de 2024. Em 5 de junho, os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams (com 61 e 58 anos) decolaram a bordo da Starliner, apesar de um "pequeno vazamento de hélio" ter sido detectado e nunca ter sido consertado.

A nave espacial chegou à Estação Espacial Internacional no dia seguinte com um novo susto em pleno voo. Vários vazamentos adicionais de hélio foram encontrados e, na aproximação final, cinco propulsores do sistema de manobra falharam. Quatro deles conseguiram se recuperar, mas o problema acabou condenando o último teste da Boeing.

O retorno dos astronautas foi a única demonstração que restou para a Boeing começar a operar, mas a NASA não confiou o suficiente na nave e optou por enviar uma Crew Dragon com dois assentos vazios e dois trajes extras para Butch e Suni retornarem para casa com a SpaceX.

O Starliner retornou à Terra vazio, no início de setembro. Foi a maior humilhação que o programa espacial da Boeing poderia sofrer, mas ele ainda veio com uma punição mais tangível: milhões de dólares em perdas.

O programa Starliner sofreu tantos atrasos e estouros de orçamento que a Boeing não só desperdiçou o contrato de preço fixo da NASA e os voos que contratou (um total de 5,1 bilhões de dólares de dinheiro público), mas gerou a maior ruína da empresa.

A Boeing perdeu US$ 1,6 bilhão para a Starliner. E essa despesa só pode aumentar nos próximos meses, agora que a empresa e seus fornecedores (neste caso, a Aerojet Rocketdyne) têm que consertar o sistema de propulsão que causou os problemas na missão tripulada.

NASA quer novo voo

Nasa Quer Que Starliner Voe Novamente

A NASA não confia na aeronave, enquanto a Boeing sabe que o negócio foi um fiasco. A questão que deve ser colocada então é se o Starliner voará novamente. Para Bill Nelson, o chefe da NASA, não há dúvida: é "100% certo" que sim.

A NASA investiu 5 bilhões de dólares no Starliner e a Estação Espacial Internacional tem mais de cinco anos para ser desativada: daria para concluir a certificação no ano que vem e ter duas naves disponíveis, conforme planejado, para não depender inteiramente do Crew Dragon.

Do outro lado da balança, o Crew Dragon está indo como um tiro: já há vários em operação, além de duas torres de lançamento disponíveis (a SpaceX acaba de adaptar a plataforma SLC-40 para voos tripulados) e um trabalho conjunto com a NASA para estender sua vida útil para mais de cinco voos.

Também não parece realista que a Starliner consiga completar os seis voos planejados pela NASA. Há esperança para a conclusão da certificação no ano que vem, mas ainda assim não serão permitidos voos regulares até o ano seguinte. Levando em conta que a NASA faz duas rotações de astronautas por ano e que a Estação Espacial Internacional terá atividades encerradas em 2030, ela fará cinco ou até menos – três voos –, que ela contratou firmemente.

Agora, a única coisa que parece clara é que a Starliner tem uma última chance: se algo mais falhar durante sua reentrada, com a nave vazia, então a NASA terá evitado uma crise comparável ao desastre da Columbia e a Boeing terá pregado o último prego em seu próprio caixão.

Imagens | POTE

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