Antigamente, as pessoas se orientavam de outras formas. Muitas famílias usavam a Guía Campsa ou a Michelin para se guiar nas viagens, já que não havia GPS nem smartphones.
Na época, em muitos carros, como o Renault Laguna, era comum ter uma Guía Campsa guardada no bolso do banco do passageiro. Isso acontecia porque, se alguém se entediasse, poderia ficar folheando os nomes de cidades e vilarejos ao longo do caminho. Sem celular, as viagens eram uma experiência diferente, onde a diversão era feita de outros jeitos.
E, mesmo com a distância do tempo, é impossível não sentir um certo aperto no coração ao se deparar com algo que resgata essas memórias, como o vídeo do canal de Jaime García no YouTube. Seu canal, que é super recomendado para quem curte fotografia analógica, traz boas risadas e uma reflexão sobre esse tempo.
Para entender o que era encontrado ao abrir a guia, era essencial saber o que significava o A de A-6, por que outras estradas tinham uma N de N-V ou ter em mente que, apesar dos números parecerem semelhantes, nada tinha a ver uma estrada com a outra.
Mas, como tudo isso foi planejado? Por que as estradas têm esses nomes? A resposta está no Plano Peña.
O Plano Peña, a origem dos nomes das estradas da Espanha
O ano era 1940. Na Espanha, a Guerra Civil acabara de terminar e ainda havia um longo caminho de recuperação pela frente. Era o momento de implementar um novo Plano de Estradas, que já havia sido aprovado em 1939 e que tinha como objetivo organizar a nomenclatura das estradas do país.
O sistema foi projetado por Alfonso Peña Boeuf, que foi nomeado ministro de Obras Públicas em 1938 por Francisco Franco. Foi através dele que as estradas passaram a receber os nomes de "nacionais", "comarcais" e "locais". A esses novos nomes, seguiram-se números de até três dígitos.
Este Plano de Estradas permaneceu ativo até 1984, quando foram aprovadas novas ações, embora as obras aprovadas (como o alargamento da via ou a melhoria do asfalto) não tenham podido ser realizadas em grande parte do país.
Para definir como o sistema funcionaria, chegou-se à conclusão de que, desde Madrid, partiam tradicionalmente seis caminhos principais que cruzavam a Espanha e tinham como destino: Irún (1), França, passando por Barcelona (2), Valência (3), Cádiz, passando por Sevilha (4), Portugal, passando por Badajoz (5) e A Coruña (6).
O sistema, portanto, respeita as conclusões do Projeto econômico de Bernardo de Ward, que data de 1762 (publicado postumamente em 1779) e que havia sido encomendado anteriormente por Fernando VI, que não viveu para conhecer os resultados dessa empreitada.
No projeto, estava claro o seguinte: "A Espanha precisa de seis grandes caminhos, desde Madrid até A Coruña, Badajoz, Cádiz, Alicante e até a fronteira com a França, tanto pela parte de Bayona quanto pela de Perpinhã…".
As estradas que, posteriormente, no Plano Peña, seguissem esses caminhos, receberiam o nome de Nacionais e o país seria dividido em setores, como podemos ver na imagem abaixo.
Decidido o nome das vias principais, restava definir as comarcais e locais. Em primeiro lugar, o mapa da Espanha foi definido por cinco círculos concêntricos que delimitavam o território em espaços menores. Foi aqui que foi definida a segunda cifra, que, evidentemente, variava de 1 a 5.
Por fim, restava fazer as estradas "falarem". Como? Através do último número da estrada. Novamente, a estrada receberia um número de 1 a 5. Isso acontecia porque, superado esse último número, a estrada era considerada caminho vicinal e não local (embora a distinção prática só fosse feita em 1961).
O que especificava esse número?
Se o número fosse ímpar, indicava que a estrada era radial (aproximava-se ou afastava-se de Madrid), e se fosse par, indicava que a estrada circundava Madrid (atravessava entre setores sem se dirigir à capital).
Pouco a pouco, as nomenclaturas foram sendo ligeiramente modificadas e os planos de obras públicas se sucederam desde meados dos anos 80. O último grande plano desse tipo é o Plano Estratégico de Infraestruturas e Transporte (PEIT), que pode ser consultado aqui, embora a última grande mudança na nomenclatura das estradas tenha ocorrido em 2003.
Apesar disso, as bases das estradas comarcais permanecem as mesmas desde o Plano Peña.
Foto | Plano Geral de Obras Públicas (1940) (Plano Peña) Sistematização de Estradas
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