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A Microsoft era considerada uma empresa chata. Para mudar isso, Bill Gates e Steve Ballmer tiveram que dançar

A Microsoft era vista como uma empresa entediante e corporativa. O plano para mudar isso foi colocar Bill Gates e Steve Ballmer para dançar.

  • Apesar do que muitos poderiam pensar sobre empresas de software, a Microsoft provou que seus líderes tinham um grande senso de humor.

  • Eles não se importavam em se expor ao ridículo, e um dos melhores vídeos não apenas se tornou icônico, mas também representou uma pequena batalha com uma empresa rival.

Bill Gates E Steve Ballmer Tiveram Que Dancar Para Tirar A Imagem De Chata Da Microsoft
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Quando, nos anos 90, você pensava em uma empresa cheia de caras de terno e gravata, a IBM era a primeira que vinha à mente. Era o tipo de empresa cujos escritórios pareciam estar cheios de cubículos com trabalhadores alienados cumprindo suas tarefas, onde na sala de descanso haveria uma cafeteira em vez de uma mesa de air hockey.

Talvez você nem soubesse como eram realmente os escritórios, mas a imagem que eles e seus produtos transmitiam era exatamente essa.

Algo parecido acontecia com a Microsoft, que também tinha a fama — merecida — de acabar com a concorrência à base de cheques, adicionando cada vez mais talentos e propriedades intelectuais ao seu portfólio, sob a liderança de um "maluco da informática": Bill Gates. Ele tinha uma visão incrível para a tecnologia e era um tubarão implacável nos negócios.

No entanto, em determinado momento, isso mudou. A Microsoft decidiu transformar sua imagem, e a melhor ideia que tiveram foi colocar Bill Gates e o enérgico Steve Ballmer para fazer todo tipo de loucura. Uma dessas loucuras, 26 anos depois, ainda é um dos melhores vídeos da internet.

Bill Gates e DOOM

Antes de mais nada, praticamente todas as empresas de informática dos anos 80 e 90 eram muito, muito parecidas. IBM e Microsoft podiam exalar aquele ar de corporativismo exagerado, mas, ao assistirmos aos vídeos de desenvolvimento dos primeiros Mario e Zelda na Nintendo, percebemos que não se diferenciavam tanto de qualquer outra empresa de software.

Uma fazia videogames, a outra, sistemas operacionais e outros programas.Ou seja, o ambiente de trabalho não era exatamente um parque de diversões, mas a publicidade... Ah, essa era uma história completamente diferente. Ainda bem.

O vídeo que você tem logo acima é uma verdadeira joia. Não, o Windows 1.0 não importa tanto; o que realmente vale é ver um jovem Steve Ballmer, com apenas 30 anos (sim, 30 anos), vendendo o sistema operacional como se fosse um comercial de teletenda. O "peça hoje, exceto em Nebraska" ainda é uma das minhas frases favoritas.

Mas, mais do que pela estranheza do anúncio (você consegue imaginar Steve Jobs fazendo isso?), o que ele revela é que havia senso de humor dentro da empresa. Esse vídeo foi utilizado internamente e é uma maravilha, mas talvez o ponto de virada tenha sido ver Bill Gates dentro de DOOM.

O jogo da id Software, liderado por John Romero e John Carmack, foi uma revolução. Não apenas consolidou o gênero de jogos de tiro em primeira pessoa (mesmo com títulos anteriores, como o próprio Wolfenstein 3D), mas também criou um ecossistema onde as pessoas podiam jogar de forma multiplayer e, além disso, o jogo foi lançado em várias plataformas.

Aqui já avançamos para o Windows 95, um salto significativo em relação ao anúncio do Windows 1.0. E foi nesse contexto que Bill Gates, em uma ação interna para promover o DirectX, literalmente entrou no universo de DOOM.

Esse vídeo é lendário por três motivos principais: é incrivelmente tosco, Bill Gates atua muito mal e, no momento do disparo, o dedo dele nem chega perto do gatilho. Mas... quem se importa? A pena é que o vídeo nunca foi exibido na televisão, pois foi uma peça cômica feita exclusivamente para o evento de promoção do Windows 95.

No final das contas, é só Gates falando sobre as maravilhas do Windows 95 e da nova API para jogos (de forma bastante monótona, aliás), mas, olhando para trás, é fantástico. E, bem, sobre o figurino... melhor nem comentar.

Baby don't hurt me, don't hurt me, no more

Mas vamos ao que interessa: ver Gates e Ballmer dançando.

Com o lançamento do Windows 95, já tivemos a chance de ver a dupla arriscando alguns passos em um dos momentos mais divertidos nos palcos. Imagine a alta cúpula da Microsoft entrando em cena ao som de "Start Me Up" dos Rolling Stones, com alguns balançando os braços de forma descoordenada, como muitos de nós faríamos em uma festa de casamento, enquanto outro está pulando pelo palco.

Pare de imaginar e veja por si mesmo:

Erroneamente, esse momento foi classificado como parte da apresentação do Windows 95, mas não é o caso. A apresentação do sistema em si é incrivelmente longa e detalhada, porém, com um tom muito mais divertido do que poderíamos imaginar.

Raymond Chen escreveu na Microsoft há alguns anos que o vídeo em que Ballmer e Gates dançam de forma desconfortável no palco provavelmente pertence a um evento privado ou a uma convenção de vendas, mas não foi uma apresentação pública nem o evento oficial de lançamento.

No entanto, a dupla atingiu o auge da comédia alguns anos depois com outro vídeo interno. Para o lançamento do Windows 98, eles gravaram uma paródia do filme A Night at the Roxbury, onde aparecem ao som de What is Love. "Ao som" talvez seja exagero, já que a falta de coordenação em certo momento do vídeo é bem evidente.

Mas há algo… estranho. Quer dizer, tudo nesse vídeo é estranho, mas em determinado momento, Bill insere um disco e começa a tocar "Da Da Da ich lieb dich nicht du liebst mich nicht aha aha aha" da banda Trio. Era uma música de 1982 que se tornou lendária graças a um icônico comercial da Volkswagen em 1998.

Mas, depois de tocar esse clássico, porque Ballmer e Gates exclamam um "NEM PENSAR"? O motivo é que a concorrente da Microsoft, a Sun Microsystems, havia lançado na mesma época um anúncio do Solaris 7, no qual faziam uma leve provocação à Microsoft.

Era, por sua vez, uma paródia do famoso comercial da Volkswagen é também uma provocação a um anúncio do Internet Explorer de 1997, no qual Ballmer e Gates já haviam feito uma paródia do mesmo comercial da VW.

Sem dúvida, essa pequena rivalidade entre Sun e Microsoft nos presenteou com o inesquecível anúncio do "What's Love".

Houve… mais, muito mais

Além desse auge cômico, esse universo de anúncios paródicos que alfinetava o concorrente foi uma genialidade de 1998, mas as aventuras de Bill e Steve não terminaram aí.

Os dois continuam protagonizando momentos memoráveis tanto nas apresentações do Windows quanto nas da primeira Xbox.

O vídeo de despedida de Bill, ao deixar seu cargo na Microsoft, é excelente, mas se há outro vídeo que merece destaque, onde ambos demonstraram um grande senso de humor, foi o da Developers Conference de 2001.

Esse vídeo não tem desperdício, nem que seja apenas para ver dois empresários multimilionários fazendo referência a Scary Movie e passeando pela cidade, realizando tarefas rotineiras com seus suéteres de lã.

No final das contas, a Microsoft era incrível, e muito. Aquele ar sério desaparecia completamente quando os publicitários começavam a criar situações em que Bill Gates e Steve Ballmer faziam papel de bobo.

O absurdo dos roteiros, a personalidade enérgica de Ballmer e a atuação terrível (mas realmente terrível) de Bill Gates resultaram em anúncios que, com toda a certeza, não veremos novamente.

Não consigo imaginar o Satya Nadella, por exemplo, fazendo nada disso, e o mais próximo (ainda que nem de longe) seria o Tim Cook no anúncio do M1 nos iPads. Como se diz hoje em dia, a publicidade dos anos 90 era, definitivamente, uma coisa.

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