A NVIDIA protagoniza uma das ascensões empresariais mais incríveis dos últimos anos, conseguindo se posicionar como uma das poucas empresas de tecnologia com uma capitalização de mercado superior a US$ 3 trilhões. As ações da companhia se valorizaram em 3.776% desde 2019.
Esse aumento no valor das ações gerou um fenômeno um tanto incomum: muitos de seus funcionários veteranos acabaram se tornando milionários. No entanto, como revela uma reportagem publicada pela Bloomberg, nem tudo são flores. Tornar a NVIDIA a campeã dos chips para IA trouxe altos níveis de estresse aos empregos, impedindo os funcionários de aproveitarem suas novas fortunas.
Funcionários milionários
A NVIDIA não é o primeiro caso em que a bonança econômica de uma empresa transforma seus funcionários em milionários. Mas ainda é um caso notável. Uma pesquisa realizada em junho de 2024 na plataforma Blind com mais de 3 mil dos 30 mil funcionários da NVIDIA revelou que 76% deles eram milionários — um em cada três possuía um patrimônio líquido superior a US$ 20 milhões (R$ 109 milhões).
A origem dessas fortunas é o plano de compra de ações para funcionários (“Employee Stock Purchase Plan”, ou ESPP na sigla em inglês) que a empresa vem oferecendo nos últimos 18 anos. Ele permite que os funcionários destinem entre 10% e 15% de seu salário anual para a compra de ações da empresa. Os funcionários mais antigos, que aderiram a esse plano durante anos, acumularam ações suficientes para poderem ir trabalhar de Lamborghini em vez de ônibus.
O lado sombrio do sucesso
Apesar do sucesso financeiro, a cultura de trabalho na NVIDIA pode ser extremamente exigente, mesmo para aqueles que possuem milhões em suas carteiras de investimentos. É o que revelaram funcionários e ex-funcionários anônimos à reportagem da Bloomberg.
Há alguns meses, o CEO da NVIDIA, Jensen Huang, afirmou em uma conferência da Stripe que preferia “torturar os funcionários para que alcançassem a grandeza” em vez de demiti-los, como era a prática na maior parte da indústria. Talvez não fosse apenas uma brincadeira. Dez funcionários da NVIDIA disseram à Bloomberg que era esperado deles trabalhar sete dias por semana (com jornadas que terminavam à uma ou duas da madrugada), e comparecer a até sete reuniões diárias.
Apesar do ambiente de trabalho exigente, os números revelam que, quanto mais os preços das ações subiram, mais caiu a rotatividade de pessoal na NVIDIA. O Relatório de Responsabilidade Corporativa de 2023 da empresa revela que a taxa de rotatividade de pessoal naquele ano foi de 5,3%. No entanto, o Relatório de Sustentabilidade de 2024 indica que, após o recorde de capitalização da empresa, a taxa de rotatividade caiu para 2,7%, muito abaixo da média de 17,7% de rotatividade no setor. Parte desse sucesso na retenção de pessoal é atribuída aos pacotes de ações que se consolidam a cada quatro anos, incentivando os funcionários a permanecer na empresa.
As "algemas douradas" da Nvidia
Existe um termo específico para descrever quando os interesses econômicos dos funcionários os impedem de pedir demissão livremente: “algemas douradas”. Esse é o caso de muitos empregados da NVIDIA, "presos" pelas algemas douradas representadas pelo valor de suas ações e pela oportunidade de aumentar essa carteira de investimentos.
De acordo com dados da Bloomberg, a diretora financeira da companhia nos últimos 11 anos, Colette Kress, teria o controle de um pacote de ações avaliado em cerca de US$ 758,7 milhões (R$ 4,1 bilhões). Seu equivalente na Intel, Dave Zinsner, possui um bônus salarial anual maior, mas um pacote de ações avaliado em apenas US$ 3,13 milhões (R$ 17 milhões). Jean Hu, diretor financeiro da AMD desde 2023, tem uma trajetória executiva semelhante à de Kress e controla um pacote de ações avaliado em US$ 6,43 milhões (R$ 35 milhões). Quem teria menos dificuldades em abandonar sua empresa?
Jensen Huang os transformou em CEOs
O estilo de liderança de Jensen Huang demonstrou ser único pela proximidade a seus funcionários e por seu compromisso com a cultura do esforço. Alguns funcionários recém-chegados reclamaram que seus colegas mais veteranos (e milionários) tinham uma atitude mais relaxada.
No entanto, Jensen Huang afirmou em uma reunião interna, publicada pelo Business Insider, que “[...] trabalhar na NVIDIA é como um ‘esporte voluntário’, portanto, cada funcionário deve agir como o ‘CEO’ do seu próprio tempo. Estas são decisões que devem ser tomadas por adultos”. Huang acrescentou que cada pessoa deve estar ciente de suas tarefas e trabalhar tão duro quanto considerar necessário, mas sempre com a responsabilidade de sua função.
Este texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha
Imagem | Stripe, Unsplash (Mariia Shalabaieva)
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