No início de outubro, faltando pouco mais de uma semana para o início do Salão do Automóvel de Paris, Carlos Tavares, CEO da Stellantis, deu uma entrevista à Challenges, uma mídia francesa, na qual abordou todos os tópicos sobre o estado atual da indústria europeia, o futuro e a posição da Stellantis no cenário.
Momento Stellantis
O maior grupo automotivo em número de marcas não está passando pelo seu melhor momento. Embora 2023 tenha sido um ótimo ano economicamente, 2024 não está sendo tão propício. O primeiro trimestre do ano foi marcado por problemas de confiabilidade com seus motores PureTech, o que obrigou a empresa a tomar medidas drásticas em termos de garantias para reconquistar o público.
Os últimos números também não falam bem de como está indo o ano, com uma queda de 48% no lucro líquido durante o primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. A isso deve ser adicionado um problema de estoque de mercado nos Estados Unidos, onde os carros estão se acumulando. Revendedores vieram protestar porque entendem que reduzir preços para levar unidades degrada a imagem da marca.
Na corda bamba
Os maus resultados e os maus sentimentos deste ano colocaram Carlos Tavares na corda bamba. A Stellantis já está procurando um sucessor para seu CEO quando ele terminar seu contrato, em 2026. A Bloomberg explica que as decisões na América do Norte podem ter sentenciado sua renovação à frente do grupo automotivo.
Vale destacar que, além disso, a Stellantis também anunciou uma redução na produção de carros, esperada para o final do ano. Apesar disso, uma das figuras mais polêmicas da indústria automotiva não parece ter perdido a forma e colocou uma infinidade de questões na mesa em entrevista à mídia francesa Challenges.
E as tarifas?
"Tarifas são uma grande armadilha, uma grande estupidez. Digo isso aos nossos líderes europeus e americanos. Se vocês se recusarem a lutar, os preços médios sobem. Tudo isso eleva o custo da mobilidade elétrica para as classes médias. Vocês reservam para os ricos!", disse Tavares quando questionado sobre tarifas sobre carros elétricos chineses.
O CEO da Stellantis não é o único executivo que ficou descontente com a aplicação de tarifas sobre carros elétricos chineses. Volkswagen, Mercedes e BMW têm pressionado a Alemanha a mostrar sua discordância, temendo represálias no país asiático, pilar das três empresas alemãs.
E com a Europa?
Barreiras comerciais são, segundo Tavares, ineficazes porque impedem que veículos elétricos sejam vendidos a um preço menor. Na entrevista, ele ressalta que os fabricantes precisam tornar seus produtos mais baratos e a única maneira de fazer isso é pegando peças de países onde é mais barato produzir.
"Precisamos de um design que rompa com o que temos feito até agora, com peças compradas em países de baixo custo. Foi o que fizemos com a nova plataforma Citroën ë-C3 desenvolvida de forma mais eficiente (parcialmente na Índia) e produzida em um país de baixo custo, a Eslováquia", exemplificou Tavares.
Porque, segundo o presidente da Stellantis, é aí que as empresas vão se concentrar nos próximos anos: "o governo italiano quer atrair fabricantes. Mas ele vai ter que colocar muito dinheiro. Porque produzir um carro na Itália é muito mais caro do que fazê-lo no Leste Europeu."
Abrindo as portas para a China
O que Tavares explica é que as tarifas vão impedir que carros elétricos chineses sejam vendidos na Europa a um custo menor, mas ele também deixa claro que não serão os países mais ricos que vão produzir esses veículos.
Se as empresas asiáticas forem forçadas a investir na Europa, "elas vão fabricar seus veículos no Leste Europeu, não no Ocidente." "Bruxelas tomou a decisão de entregar as chaves do carro europeu para a indústria asiática. Não nos enganemos. Se as marcas chinesas tomarem 10% do mercado na Europa, isso dá 1,5 milhão de veículos. É o equivalente à produção de sete fábricas europeias!", salienta Tavares.
Demissões?
E entregar as chaves para a China significa que os europeus devem aprender com sua forma de agir para economizar custos. Custos que, claro, incluem custos de mão de obra. Com as ameaças contínuas da Stellantis de fechar fábricas em países como a Itália, Tavares não nega que mais demissões estão ocorrendo.
Questionado sobre essa possibilidade, a resposta de Tavares foi a mesma sobre a possibilidade de vender algumas das marcas menos lucrativas do grupo. "Os fabricantes chineses estão batendo na porta para comprar marcas francesas. Por uma questão de princípio, nunca descartamos nada (ao contrário do que ele fez no verão). Eu nunca garanto empregos. Os sindicatos da Stellantis são inteligentes, eles entendem a situação. Estamos lutando para sobreviver", diz Tavares.
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