Depois de receber lixo da Coreia do Norte, Seul decidiu: é hora dos drones

  • O país já alerta para "uma ação militar decisiva" se os balões norte-coreanos causarem alguma vítima fatal

  • Em meio à escalada nas tensões, a Coreia do Norte decidiu cortar suas estradas em direção ao sul

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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Há meses, balões sobrevoam a fronteira entre Coreia do Sul e Coreia do Norte carregados de lixo. O conteúdo: resíduos, papéis sujos e embalagens. Esse estranho fluxo de balões infláveis disparou os alarmes em Seul por volta de maio deste ano e, agora, se transformou em um verdadeiro dilúvio.

O governo sul-coreano calcula que, até setembro, a Coreia do Norte enviou 5.500 balões recheados de lixo, em alguns casos até com esterco, o que forçou o país a ativar 22 alertas. Com isso, a Coreia do Sul está preparando uma arma peculiar: drones "anti balões-lixo". O que preocupa o país é que, se hoje os balões carregam lixo, no futuro eles podem ser equipados com patógenos ou substâncias radioativas.

Drones "anti balões-lixo"

O conceito pode parecer estranho, mas é exatamente isso que estão pensando em criar na Coreia do Sul: drones projetados para detectar, capturar e neutralizar os milhares de balões de lixo que, segundo o governo, vêm sendo enviados há meses pela vizinha Coreia do Norte.

A notícia foi divulgada por vários meios de comunicação do país, incluindo o jornal The Korea Times. Empresas especializadas em defesa, acadêmicos e instituições de pesquisa uniram forças para criar veículos não tripulados especiais. O objetivo é apresentar uma proposta ao governo nos próximos meses.

A iniciativa envolve as universidades de Jeonbuk e Hanseo, UAM Tech, o Instituto de Pesquisa de Energia Atômica da Coreia (Kaeri), a Academia Militar da Coreia e a empresa BioLT, entre outros. "Planejamos propor o projeto ao Comitê de Defesa da Assembleia Nacional no próximo mês, enfatizando a necessidade de examinar as ameaças de segurança representadas pelos balões de lixo norte-coreanos e estabelecer um sistema de resposta rápida", explicou ao Korean Times Kang Eun-ho, diretor de uma das organizações envolvidas e que já ocupou um cargo de responsabilidade na área de defesa.

Mas não são só balões?

Os balões de lixo deixaram de ser algo apenas inusitado para se tornar uma verdadeira dor de cabeça para o governo sul-coreano. O Ministério do Interior e Segurança do país calcula que, apenas entre maio e setembro, a Coreia do Norte enviou mais de 5.500 balões carregados de lixo, o que resultou em 22 alertas. Em julho, foram contabilizados cerca de 500 balões em apenas 24 horas.

Além disso, alguns desses balões estão equipados com temporizadores que permitem que explodam e espalhem seu conteúdo. Em julho, a Reuters informou que pelo menos um deles provocou um incêndio no topo de um edifício em Gyeonggi, uma província próxima à capital. Seul os monitora com tanto cuidado que, em setembro, já advertiu que, caso certa "linha" fosse ultrapassada e houvesse uma vítima fatal, o país não hesitaria em responder com "ações militares decisivas".

O conteúdo

No entanto, haveria outra razão, tão ou até mais importante, pela qual as autoridades sul-coreanas seguem atentamente a evolução dos balões. Hoje, eles estão carregados de lixo, mas… e amanhã? O The Korea Times afirma que o medo de que a Coreia do Norte possa usar esses infláveis para enviar algo pior ao seu vizinho do sul, como substâncias radioativas ou patógenos, gera uma "alarmante preocupação" no país.

O mesmo jornal afirma que o exército hesita em interceptar os balões em pleno voo por medo de que, ao fazer isso, possam liberar substâncias perigosas. Em um estudo recente, o Instituto de Estratégia de Segurança Nacional (INSS) apontou que, até agora, o conteúdo mais preocupante dos balões são as fezes, as bactérias e os microrganismos que elas contêm, que podem causar doenças como cólera. "Em vez de focarmos em cenários especulativos de ataques bioquímicos futuros, a preocupação imediata é a gestão dessas fezes", disseram.

Os drones

Embora, como reconheceu Kang Eun-ho, eles ainda precisem apresentar sua proposta à Defesa, os idealizadores do projeto já têm uma ideia mais ou menos clara do que a Coreia do Sul precisa. A ideia é criar dois tipos distintos de drones. Haverá dispositivos multirrotores projetados para detectar e coletar os balões, além de drones de decolagem e pouso vertical (VTOL) que serão implantados em áreas onde os balões já causaram estragos.

Os primeiros drones contarão, além disso, com detectores de radiação de alta sensibilidade e equipamentos para coletar amostras e implementar dispositivos de captura. O jornal especifica que os drones serão colocados ao longo da fronteira, cada um operando por pelo menos três horas e encarregado de neutralizar um único balão por missão. Uma vez neutralizados, eles serão levados a um local onde especialistas poderão analisá-los e descartá-los de maneira segura.

Uma solução a médio prazo

Também foi divulgado que o desenvolvimento e a pesquisa durarão cerca de três anos e exigirão um orçamento anual de 10 bilhões de wones (R$ 41 milhões). Mas a demora na implementação do projeto preocupa, uma vez que o problema já dura seis meses.

A equipe por trás da iniciativa argumenta que a tarefa não será fácil. Não apenas precisarão encontrar a forma mais eficaz e segura de analisar e neutralizar os balões, mas seus dispositivos também terão que realizar essas operações transportando equipamentos pesados em todas as condições climáticas. Para realizar testes, eles ainda precisarão construir espaços especiais.

Escalada crescente

Ainda haveria uma terceira razão pela qual os balões norte-coreanos preocupam a Coreia do Sul. As relações entre Seul e Pyongyang, já tensas por natureza, não estão em seu melhor momento. Nos últimos meses, a tensão entre os dois países aumentou a tal ponto que afetou o pacto militar de 2018, e Kim Jong-un se referiu ao vizinho do sul como o "inimigo nº 1".

Pyongyang também recentemente tomou uma medida amplamente simbólica, mas que demonstra o ponto em que estão as relações: decidiu cortar o acesso rodoviário e ferroviário com a Coreia do Sul, a fim de "separar completamente" os dois territórios, "bloqueando permanentemente a fronteira". O exército (KPA) argumenta que a medida é um movimento de "autodefesa para evitar a guerra".

Texto traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagens | B Ystebo (Flickr) e Trump White House Archived (Flickr)


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