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Intel declara as maiores perdas de sua história; na realidade, é uma miragem contabilística

São grandes perdas, mas a maior parte vem de ajustes contábeis e não implica uma saída real de dinheiro

Pat Gelsinger, o CEO da Intel / Imagem: Intel, Xataka
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A Intel anunciou seus últimos resultados trimestrais, que trazem as maiores perdas de sua história: 16,6 bilhões de dólares (R$ 98 bilhões), sofridas no terceiro trimestre de 2024. Em seus 56 anos de existência, nunca antes a empresa havia apresentado perdas tão grandes. No entanto, é importante prestar atenção aos detalhes.

Esse valor e esse marco negativo refletem a transformação pela qual a Intel está passando, lutando para manter a liderança em um mercado cada vez mais competitivo, agora dominado pela ênfase na IA.

A Intel está no meio de uma das reestruturações mais importantes de sua história, com a demissão de 15 mil funcionários e um plano de redução de custos que busca diminuir o orçamento anual em 10 bilhões de dólares (R$ 61 bilhões).

Em números:

  • Perdas de 16,6 bilhões de dólares (R$ 98 bilhões). No mesmo trimestre de 2023, teve um lucro de US$ 297 milhões (R$ 1,8 bilhão).
  • Receitas de 13,3 bilhões de dólares (R$ 81 bilhões, -6% em relação ao ano anterior).
  • Capitalização de mercado de 99 bilhões de dólares (R$ 609 bilhões), abaixo da barreira psicológica dos 100 bilhões
  • Ações em queda livre: -60% desde 2021, quando Gelsinger se tornou CEO da empresa.
Perdas da Intel / Imagem: Xataka

Nos bastidores

A maior parte das perdas se deve a ajustes contábeis e custos de reorganização. Ou seja, encargos extraordinários.

  • 9,9 bilhões (R$ 61 bilhões)  em ativos fiscais diferidos: benefícios fiscais futuros que a Intel havia acumulado por perdas anteriores. Foram cancelados porque a Intel não espera gerar lucros suficientes no curto prazo para utilizá-los.
  • 3,1 bilhões (R$ 19 bilhões) em deterioração de equipamentos de fabricação: ou seja, maquinaria de produção que já não tem o valor esperado e não pode ser adaptada às novas tecnologias. Essa é a utilizada no seu processo "Intel 7".
  • 2,9 bilhões (R$ 17,8 bilhões) em deterioração do fundo de comércio: uma forma de reconhecer que pagou demais por algumas aquisições, especialmente a Mobileye, sua divisão de veículos autônomos.
  • 2,8 bilhões (R$ 17,2 bilhões) em custos de reestruturação: gastos relacionados à demissão de 15 mil funcionários, incluindo indenizações e aposentadorias antecipadas. Esse encargo é o único que representa uma saída real de dinheiro.

Embora sejam perdas enormes, a maior parte vem de ajustes contábeis e não implica uma saída real de dinheiro. Porém, elas refletem o grande problema estrutural da Intel.

O que aconteceu

A Intel tem perdido terreno em várias frentes:

  • IA: Ficou para trás em relação à NVIDIA, à AMD e à Qualcomm no mercado de chips.
  • Fabricação: Sua divisão para terceiros registrou perdas enquanto ela tenta competir com a TSMC, que não parou de crescer.
  • PC: Sua receita no segmento, que ainda é sua principal, também caiu, em 7%.

E agora o quê? Pat Gelsinger, o CEO, tem algumas apostas para reverter a situação:

  • Tornar a divisão de terceiros uma subsidiária independente.
  • Focar no desenvolvimento de seu processo de fabricação Intel 18A.
  • Simplificar o catálogo de produtos.
  • Melhorar a eficiência organizacional.

Entre linhas

Apesar das perdas históricas, os investidores têm visto com bons olhos os esforços de reestruturação e confiam que as medidas permitirão à Intel recuperar terreno. Após o anúncio dos resultados, as ações subiram 15%.

Em 2025, será quando começará a verdadeira batalha pelo futuro da Intel, com o lançamento do Panther Lake, sua arquitetura baseada no processo 18A. Será interessante ver o que anunciarão AMD, Apple e Qualcomm para competir.

Imagem | Intel, Xataka

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