Quanto custa fabricar o foguete mais poderoso do mundo? Graças a uma ação judicial, temos a resposta. A organização ambientalista Save RGV está travando uma batalha legal contra a SpaceX a respeito dos lançamentos da Starship, o que revelou alguns detalhes.
A Save RGV argumenta que o sistema de dilúvio, uma espécie de bidê gigante que dispara jatos de água durante o lançamento do foguete, está despejando águas residuais no Vale do Rio Grande (localizado no Texas, EUA) sem permissão, algo que a SpaceX negou publicamente e nos tribunais.
Na sua ação judicial, a Save RGV solicita a paralisação dos lançamentos na Starbase, a instalação da SpaceX no sudeste do Texas. Essa é uma das razões pelas quais o quinto voo da Starship foi adiado para o final de novembro, antes de ser finalmente antecipado para o meio de outubro.
Em sua oposição à ação judicial, a SpaceX argumenta que o sistema de dilúvio, que usa água potável para controlar o fogo, o pó e os destroços durante os lançamentos, foi autorizado pelo governo do Texas, pela Administração Federal de Aviação e pelo Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos EUA, que concluiu que seu uso não causava danos ambientais significativos.
No mesmo documento, a SpaceX menciona que investiu mais de 7.500 milhões de dólares na construção de suas instalações de lançamento e no desenvolvimento do foguete Starship-Super Heavy. Ainda mais interessante: operar a Starbase, que inclui a fábrica do foguete, ou "Starfactory", custa à empresa 1.500 milhões de dólares por ano — 4 milhões de dólares por dia. Esse valor inclui despesas com pessoal, instalações e outros custos operacionais.
"Sem a capacidade de realizar lançamentos — dizem seus advogados ao tribunal —, a SpaceX enfrentaria esses custos sem um retorno significativo do investimento, o que poderia impactar gravemente sua viabilidade financeira e sua capacidade de cumprir contratos importantes relacionados a missões governamentais e comerciais". O que nos leva à próxima pergunta.
Como a SpaceX financia tudo isso?
Segundo Elon Musk, a principal fonte de financiamento da Starship é o serviço de internet via satélite Starlink, que em maio deste ano superou os 3 milhões de clientes.
Com mais de 4.700 satélites ativos, a Starlink opera em mais de 100 países e começou a ser disponibilizada em diversos cruzeiros e companhias aéreas comerciais. É a galinha dos ovos de ouro que disparou a avaliação da SpaceX para mais de 200 bilhões de dólares. Elon Musk continua a ter a maior participação na empresa, mas vendeu grande parte da fatia para novos investidores, que ajudaram a financiar a Starship.
Como parte da SpaceX, a Starlink é uma empresa privada que ainda não está listada na bolsa e não divulga seus resultados, mas projeta-se que fechará 2024 com uma receita de 6,6 bilhões de dólares. E esses números só devem melhorar no próximo ano com os acordos com operadoras, que começam a aproveitar a conectividade celular Direct to Cell da Starlink para fornecer serviços em áreas sem cobertura.
Mas não só a Starship que depende da Starlink: o futuro da Starlink também depende da Starship. O enorme foguete será fundamental para o lançamento da próxima versão dos satélites. Conhecidos como Starlink de segunda geração, eles oferecerão uma largura de banda 10 vezes maior e menor latência do que os atuais v2 mini, graças a uma altitude orbital mais baixa.
Em compensação, eles serão muito maiores, por isso não poderão ser lançados no foguete Falcon 9, como tem sido até agora. A SpaceX já pediu aprovação à Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC) para oferecer o serviço com esses satélites a velocidades de gigabit, o que indica que não devem demorar a começar a lançá-los com a Starship, em vez de continuar testando o foguete sem lançar carga.
Claro, a Starlink não é a única fonte de receita que torna o programa possível. O Pentágono também tem seus próprios interesses na Starship. O Escritório Nacional de Reconhecimento (NRO) está desenvolvendo a rede de satélites espiões Starshield, baseada na constelação Starlink. E a Força Espacial deseja alugar o foguete para lançamentos militares de um ponto a outro da Terra.
Antes disso, vem a NASA, que assinou com a SpaceX os dois contratos mais importantes da Starship: HLS Opção A (de 2,9 bilhões de dólares) e HLS Opção B (de 1,15 bilhão de dólares). Esses contratos exigem uma Starship para levar astronautas da órbita lunar até a superfície da Lua durante as missões Artemis III e Artemis IV. A SpaceX precisa completar um teste não tripulado da Starship em 2025 para poder cumprir o acordo com a agência espacial.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha
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