Especialistas gravam áudio de golfinho dinarmaquês e o que ouvem é de partir o coração

A surpresa para os cientistas foi tão grande que levanta a possibilidade de que ele esteja "conversando" consigo mesmo.

Golfinho solitário inventou novos sons para se comunicar | Imagem: sheilapic76
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Parecia realmente difícil encerrar o ano com uma história de "criaturas marinhas" mais fascinante do que a da baleia beluga espiã "russa", mas aqui está a natureza nos mostrando mais uma vez o quanto pode ser maravilhosamente imprevisível. Há cinco anos, foi descoberta uma criatura vagando de forma peculiar pelas costas da Dinamarca. Os pesquisadores instalaram um microfone nela e, agora, precisamos de muitas respostas.

Um golfinho “diferente”

Como mencionamos, a história começa há cinco anos, quando um golfinho nariz-de-garrafa apelidado de "Delle" foi avistado no canal Svendborgsund, na Dinamarca, uma área incomum para sua espécie. Com 17 anos, Delle viajava sozinho, algo totalmente excepcional para uma espécie altamente social que normalmente vive em grupos.

O golfinho “carismático”.

Durante três meses, entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, pesquisadores da Universidade do Sul da Dinamarca aproveitaram a oportunidade para estudar um golfinho isolado em seu habitat natural. O que eles fizeram? Instalaram um microfone para aprender mais sobre ele.

O que encontraram foi algo inédito para a espécie: registraram nada menos que 10.833 sons emitidos pela criatura. Esses sons incluíam 2.239 assobios, 5.487 tons de baixa frequência, 767 sons percussivos e 2.288 pulsos rápidos, sendo esses últimos geralmente associados à agressividade de golfinhos em grupo.

No caso de Delle, como apontam os pesquisadores, essas vocalizações pareciam ir além do esperado. A pesquisa revelou que poderiam ser uma forma de “autoconversa”, um comportamento que, se confirmado, seria inédito e poderia refletir sua necessidade urgente de interação social — ainda mais após anos de solidão debaixo d’água.

A complexidade dos sons

Conforme detalhado pelos pesquisadores, essas emissões poderiam ser sinais emocionais involuntários, tentativas de comunicação interna ou até mesmo um subproduto do instinto social do golfinho.

Embora o significado exato dos sons ainda não esteja claro, sua persistência e diversidade ressaltam a importância da interação social para a espécie.

Delle chegou a criar três “assobios distintos”, que os golfinhos geralmente utilizam como uma espécie de “nome” para se identificarem uns aos outros. Isso é inusitado, já que normalmente cada golfinho possui apenas um. Apesar do isolamento, o animal continua emitindo sons complexos, mesmo na ausência de humanos ou outros animais por perto.

Por quê?

Essa é a grande pergunta que surge após a descoberta. Os especialistas consideram várias hipóteses para explicar o comportamento de Delle. Inicialmente, pensaram que ele poderia estar tentando se comunicar com humanos próximos ou atrair outros golfinhos. No entanto, ambas as teorias foram descartadas ao observarem sua persistente solidão e a emissão de vocalizações mesmo na ausência de estímulos externos.

O golfinho que conversa consigo mesmo

O estudo da universidade sugere que a teoria mais plausível é que Delle esteja vocalizando de maneira involuntária, possivelmente como uma resposta emocional. Isso seria algo semelhante ao comportamento humano de rir sozinho ao se lembrar de algo engraçado — um fenômeno nunca antes observado em golfinhos.

Outra hipótese, talvez ainda mais interessante, é que Delle esteja engajado em uma forma de “autoconversa”, um comportamento que, em humanos, é frequentemente associado a longos períodos de isolamento.

Dito isso, os pesquisadores alertam que esse fenômeno ainda não é completamente compreendido, nem em humanos nem em animais. Como é a primeira vez que algo assim é detectado em um golfinho, não há precedentes ou estudos anteriores para embasar a análise.

O mistério da solidão animal

É aqui que a investigação chega. A pergunta sem resposta é: por que Delle está sozinho nas águas geladas do Mar Báltico? Será que ele foi rejeitado por sua manada? Ou talvez se perdeu e acabou desviando de seu curso? As razões por trás de seu isolamento permanecem um enigma, abrindo espaço para especulações.

Apesar de serem extremamente inteligentes e sociais, os golfinhos podem se adaptar à solidão de maneiras bastante únicas. No caso de Delle, uma criatura que vive isolada há anos, os pesquisadores descartam que suas vocalizações sejam tentativas de atrair outros golfinhos, já que, após tanto tempo, é evidente que não há outros membros de sua espécie na área.

Por outro lado, sabe-se que a solidão em golfinhos pode levar a comportamentos mais disruptivos. Por exemplo, no Japão, um golfinho solitário chegou a morder banhistas, aparentemente em uma tentativa de chamar atenção. No caso de Delle, parece que ele utiliza suas vocalizações como uma forma de se entreter e/ou lidar com o isolamento.

A complexidade animal

Embora o caso do golfinho solitário ofereça uma oportunidade única para compreender como esses animais lidam com a solidão, os pesquisadores alertam sobre a necessidade de cautela ao comparar esses comportamentos com os dos humanos.

Embora alguns padrões, como "falar sozinho", possam parecer similares, é essencial reconhecer as diferenças entre os sistemas de comunicação e as emoções das diferentes espécies.

Enquanto isso, o enigma em torno dessa fascinante criatura permanece: estaria ela rindo, gritando ou apenas lidando com a tristeza do isolamento?

Talvez nunca descubramos o significado exato de seus sons, mas sua história destaca as complexidades da vida social dos animais e sua resiliência em condições de extrema solidão.

Além disso, ressalta o quanto ainda sabemos pouco sobre o comportamento e as emoções de animais altamente sociais.

E se, no fim das contas, ele só quiser ficar sozinho?

Imagem: sheilapic76

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