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Eles precisavam apenas de um festival de rock para marcar o fim da União Soviética

Show de Rock que representa o fim da União Soviética. Imagem: Alex Bracken - Unsplash
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

O ano de 1991 foi um divisor de águas para o mundo da música e, especialmente, para o rock. Lançamentos como Nevermind do Nirvana e Black Album do Metallica moldaram uma nova geração de fãs, enquanto o cenário global enfrentava transformações que marcaram a história. Em meio a esse turbilhão, um festival se tornou um símbolo de liberdade e mudança: o Monsters of Rock em Moscou.

O caos na política

Em 28 de setembro de 1991, a capital da União Soviética foi palco de um dos maiores festivais de rock da história. O evento reuniu um line-up impressionante, com AC/DC, Metallica, Pantera, E.S.T. e The Black Crowes, mas sua importância ia muito além da música.

Apenas um mês antes, a tentativa fracassada de golpe de estado contra Mikhail Gorbachev havia evidenciado as tensões dentro do Partido Comunista, antecipando a dissolução da URSS, que ocorreria oficialmente em dezembro daquele ano.

O rock, antes visto como um símbolo da decadência ocidental e proibido no país, de repente se tornou um fenômeno de massa. O festival não foi apenas um show: foi um grito de libertação de uma juventude que, pela primeira vez, experimentava o poder da música ao vivo sem censura.

1,6 milhão de pessoas e apenas um palco

O Monsters of Rock de Moscou entrou para a história não apenas pela qualidade musical, mas pelo tamanho de sua audiência. Estima-se que 1,6 milhão de pessoas tenham comparecido ao evento, transformando a Praça de Tushino em um verdadeiro mar de fãs sedentos por uma experiência que antes parecia inalcançável.

A apresentação do Pantera ficou marcada pelo caos, com o vocalista Phil Anselmo expressando sua empolgação com o momento único: "A música é uma linguagem universal, e o que estamos vivendo aqui prova isso." Durante a performance, houve confrontos entre policiais e fãs, um reflexo do conflito entre a repressão e o desejo de liberdade que permeava a sociedade soviética naquele momento.

Já o AC/DC entregou um dos shows mais “perigosos” da noite, com Brian Johnson, vocalista da banda, lembrando que, nos bastidores, a tensão era extremamente vísivel. Entre soldados armados e um público que proclamava a liberdade, a banda protagonizou um espetáculo que seria lembrado como um dos momentos mais marcantes do rock.

O Metallica também teve uma participação memorável no evento. Em uma entrevista ao The Fierce Life Podcast, James Hetfield, vocalista da banda, relembrou o impacto do festival e o descreveu como uma de suas melhores lembranças de turnê:

"O show na Rússia em 1991, após o golpe, quando o país se abriu e não era mais comunista. Tocamos com outras quatro bandas e, basicamente, pela primeira vez foi um show gratuito em um espaço aberto, e eles estimaram um milhão, ou meio milhão, ninguém realmente sabia, simplesmente ser capaz de tocar em um lugar que era simplesmente novo e nunca tinha ouvido nada parecido antes, e apenas observar as pessoas mudando conforme a música as tocava."

Você pode assistir o show do Metallica em Moscow no link abaixo.

O legado do festival

Embora a União Soviética tenha oficialmente chegado ao fim poucos meses depois, o Monsters of Rock de Moscou já simbolizava essa transição. Para muitos jovens soviéticos, aquele dia marcou a verdadeira abertura para um mundo novo, onde a música ocidental não era mais uma ameaça, mas sim uma fonte de inspiração.

Décadas depois, o festival segue sendo lembrado como um evento que transcendeu barreiras políticas e provou que o rock tem o poder de unir multidões, independentemente das fronteiras. O que aconteceu naquela noite de setembro não foi apenas um show: foi um capítulo da história sendo escrito ao som de guitarras e gritos de liberdade - literalmente.

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