Não, não é impressão sua. Preparar um omelete está mais caro hoje do que há alguns meses. No Brasil, em fevereiro, o preço do ovo registrou aumento de mais de 40% em relação a janeiro em diversas regiões do país, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea - Esalq/USP). Em relação ao mesmo mês no ano passado, o aumento foi de 10,7%.
De acordo com especialistas consultados pela imprensa, a culpa do aumento do preço do ovo no nosso país se divide em vários fatores. Em primeiro lugar, há o aumento no custo da produção, que é puxado pela alta do dólar. Em segundo, a volta às aulas, já que o ovo é um alimento muito presente na merenda escolar. Em terceiro, o aumento sazonal tradicional do preço no período que antecede a Quaresma. Por fim, as ondas de calor nas regiões produtoras diminuíram a produtividade das poedeiras.
É importante destacar que, em 2024, a produção de ovos no Brasil atingiu volumes recordes na série histórica do IBGE. Com o aumento da oferta no mercado doméstico, os preços recuaram por seis meses consecutivos, de abril a setembro. Além disso, existe a tendência de que os preços se normalizem após a Quaresma, embora especialistas digam que isso não é garantido.
Na Europa e nos EUA
Após um aumento nos preços entre agosto e dezembro de 2024 em toda a UE, as caixas de ovos voltaram a encarecer em março, como mostram o observatório de preços da Facua e os mercados de Toledo e Bellpuig, na Espanha. Os dados deixam claro: depois da alta registrada na segunda metade de 2024, os ovos voltaram a subir de preço.
O percentual varia de uma rede para outra, mas, no início de março, a organização de consumidores registrou aumentos de até 25% no preço dos ovos. Enquanto isso, os mercados catalão e toledano também registraram altas que chegaram a 8 ou 14 centavos, dependendo do tipo de produto.
A primeira explicação para isso é a própria demanda. O setor registrou um aumento desde 2024, com uma alta de 8%, bem acima do crescimento observado na carne ou nos produtos refrigerados. Isso não é surpreendente: em períodos inflacionários, os consumidores buscam opções mais acessíveis, como os ovos, uma fonte de proteína econômica.
Além disso, as granjas têm enfrentado uma série de fatores que aumentam seus custos: o fim dos subsídios na conta de luz, o encarecimento da mão de obra e o aumento do preço dos grãos nos últimos anos. O setor também alertou sobre o impacto da regulamentação que pretende eliminar as gaiolas.
As análises sobre os preços dos ovos costumam destacar outro fator crucial: o fantasma da gripe aviária, que afeta principalmente os EUA, mergulhados no que já foi chamado de "ovoflação", caracterizada pela escassez e preços recordes. Em janeiro, o preço médio de uma dúzia de ovos da categoria A chegou a cerca de 4,95 dólares (R$ 28). Nas últimas semanas, o preço se aproximou de R$ 44.
Na Espanha, o Ministério da Agricultura e Alimentação declarou no início do ano um nível de risco alto para a gripe aviária e ativou uma ordem com medidas preventivas nas áreas mais vulneráveis. Nessa mesma época, o Diário Oficial da UE alertou que Alemanha, França, Itália, Hungria, Polônia e Portugal haviam notificado surtos da doença.
De onde vem a demanda?
Em sua última análise sobre o mercado, a Federação Empresarial Toledana (Fedeto) destacou um fator determinante para entender a evolução dos preços na Espanha: a demanda, tanto nacional quanto internacional. "O consumo de ovos continua elevado tanto nos lares quanto na indústria", explica a entidade, que observa uma alta geral nas cotações de todos os tamanhos, especialmente nos tipos L e M.
"A exportação para países da Europa Central continua, onde a produção reduzida não é suficiente para atender à demanda", acrescenta. Segundo a Associação Espanhola de Produtores de Ovos (ASEPRHU), nos últimos anos, entre 15% e 20% dos ovos de mesa da Espanha foram exportados. Os principais destinos são França, Portugal e Países Baixos.
E os Estados Unidos?
Em meio à "ovoflação", os EUA estão buscando diferentes formas de atender sua demanda e reduzir os preços, o que inclui, segundo o The New York Times, aumentar as importações. Há algumas semanas, o jornal informou que o país já está sondando vários mercados para garantir o fornecimento a curto prazo, sem especificar quais.
A principal fonte de ovos importados pelos EUA é o vizinho Canadá, seguido de Países Baixos e Reino Unido. No entanto, a rede CNN destacou recentemente que um dos grandes aliados do país no momento é a Turquia, que pretende exportar cerca de 420 milhões de ovos para os EUA este ano, um recorde histórico.
Em 2015, diante de uma situação semelhante, os EUA recorreram à UE para suprir a escassez de ovos, mas, segundo o setor, o cenário atual é diferente, com um mercado interno mais estável.
Imagens | Alex Barth (Flickr) e Open Grid Scheduler / Grid Engine (Flickr)
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