Tendências do dia

Efeito Zeigarnik explica porque garçons não esquecem o pedido dos cliente e afeta a sua produtividade

  • O cérebro não suporta deixar tarefas inacabadas, por isso tende a manter pensamentos intrusivos sobre as tarefas que você tem pendentes.

  • O 'Efeito Zeigarnik' é responsável e permite que os garçons se lembrem dos pedidos até que você pague por eles. Então eles esquecem

Efeito Zeinarnik Explica Por Que Garcons Nao Esquecem Pedidos Dos Clientes
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
pedro-mota

PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Vou aproveitar estas linhas para demonstrar minha absoluta admiração por garçons e garçonetes capazes de lembrar até mesmo do menor detalhe do pedido de uma mesa de 12 pessoas. Tem vezes que vou pegar algo na geladeira e tenho que voltar porque esqueci.

Dito isto, esse feito de memória não é exatamente mérito do profissional de hospitalidade, mas de um processo que acontece em seu cérebro conhecido como "Efeito Zeigarnik" que o impede de esquecer o pedido até que ele o tenha servido ou pago. Então, imediatamente, ele o esquece. Uma lousa em branco.

O que é o Efeito Zeigarnik?

O nome se deve à psicóloga e psiquiatra russa Bluma Zeigarnik, uma pesquisadora-chave dentro da psicologia da Gestalt. Em 1927, Zeigarnik observou que os garçons em restaurantes eram capazes de lembrar com precisão os pedidos que estavam pendentes para serem servidos, mas rapidamente esqueciam aqueles que já tinham sido servidos aos clientes.

A partir dessa observação, Zeigarnik desenvolveu uma teoria sobre a memória e o comportamento humano, postulando que o cérebro tende a se lembrar melhor das tarefas pendentes ou inacabadas do que daquelas que já foram concluídas.

Experimentos de Zeigarnik

Para testar sua hipótese, Zeigarnik projetou uma série de experimentos. Os participantes precisavam realizar de 18 a 21 tarefas sucessivas, incluindo quebra-cabeças, problemas aritméticos e tarefas manuais. No entanto, alguns dos participantes foram interrompidos antes que pudessem terminá-los, encerrando os testes.

Os resultados de seus experimentos mostraram que as pessoas se lembravam mais claramente das tarefas que não haviam terminado devido a interrupções, em comparação com aquelas que conseguiram concluir sem pausas. Isso mostrou que a mente humana tende a reter informações relacionadas a tarefas inacabadas, o que pode estar relacionado à necessidade de fechar ciclos ou concluir o que foi iniciado. Em outras palavras, o cérebro fica incomodado por ser deixado no meio do caminho e insiste em terminá-las.

Confirmando a teoria

Quase quatro décadas depois, o psicólogo britânico John Baddeley conduziu um experimento no qual os participantes foram solicitados a resolver um conjunto de anagramas, cada um dentro de um período de tempo definido. Se não conseguissem resolver o anagrama a tempo, receberiam a solução. Quando ele pediu aos participantes que lembrassem das soluções de palavras, ele descobriu que os participantes eram mais propensos a lembrar anagramas que não tinham resolvido do que aqueles que tinham completado, confirmando o efeito Zeigarnik.

Em outro estudo, o psicólogo John Atkinson focou nos aspectos motivacionais da conclusão de tarefas enquanto abordava o efeito Zeigarnik no processo. Atkinson observou que os sujeitos que enfrentavam as tarefas com maior motivação tinham um impacto maior na memória quando não conseguiam terminá-las e eram mais propensos a se lembrar delas. Por outro lado, se um participante estava menos motivado, o impacto de uma tarefa inacabada não tinha o mesmo efeito em sua memória.

O efeito Zeigarnik e sua lista de tarefas

O efeito Zeigarnik tem implicações importantes no campo da produtividade. Quando uma tarefa não é concluída, o cérebro tende a ficar "fisgado" nela, levando a pensamentos intrusivos que podem interferir no desenvolvimento eficiente de outras atividades.

Esse fenômeno sugere que, como já dissemos em várias ocasiões, focar em uma única tarefa até que ela seja concluída é a chave para melhorar a produtividade, em vez de tentar realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Interrupções, tanto internas quanto externas, desempenham um papel crítico em como gerenciamos nossas tarefas diárias. Concluir uma tarefa proporciona uma sensação de satisfação e alívio mental, enquanto tarefas inacabadas podem levar ao estresse e à ansiedade.

Motivação ainda é a chave

Como as descobertas de John Atkinson revelaram, a motivação é um fator decisivo para acender a faísca do efeito Zeigarnik. Sem ela, você tem mais probabilidade de abandonar aquela tarefa antes mesmo de iniciá-la, caindo no abraço sufocante da procrastinação.

Por outro lado, quando a tarefa é estimulante ou importante para objetivos futuros, temos mais probabilidade de querer concluí-la, o que explica por que, uma vez que começamos algo, nos sentimos mais inclinados a terminá-lo. Precisamos apenas de um pequeno empurrão para começar a fazer algo e, a partir desse momento, é mais difícil adiá-lo ou deixá-lo pela metade.

Séries nos prendem graças a Zeigarnik

Outro efeito "colateral" da teoria de Zeigarnik é aquele que nos mantém presos a uma série. Aquele "Continua" que aparece no final de cada episódio, ou aquele resultado que fica no ar não é acidental. Está estimulando o mesmo processo cerebral que impede que os garçons se esqueçam de suas bebidas até que você pague a conta.

Em outras palavras, seu cérebro não aceita deixar aquela história sem um final fechado, então ele guarda aquela memória (e expectativa) até que o mistério seja revelado (ou não) no próximo episódio.

Imagem | Unsplash ( yuya kitada )

Inicio