Taxa de natalidade mais baixa do mundo força Coreia do Sul e tomar decisão desesperada

Governo resolveu contratar babás estrangeiras no atacado para incentivar casais a terem filhos sem precisarem abandonar o trabalho

Coreia
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

De todos os problemas na Coreia do Sul, tem um que realmente tem deixado o pessoal sem dormir: o país tem a taxa de natalidade mais baixa do mundo, com apenas 0,72 filho por mulher. Nos últimos anos, governos e administrações tentaram, mas ninguém conseguiu frear a queda. A última iniciativa dá a medida do desespero: resolveram contratar babás estrangeiras.

Como parte da estratégia do governo, foi anunciada em agosto de 2024 a contratação de 100 babás filipinas que poderão trabalhar no país. A medida é apenas o começo, já que a intenção é trazer aproximadamente 1.200 babás estrangeiras até o fim da primeira metade de 2025.

Um problema sem solução

Apesar dos esforços do governo nos últimos 17 anos, incluindo um gasto de 380 bilhões de wons (cerca de 284 milhões de dólares) em diversos incentivos para aumentar a fertilidade, a taxa de natalidade continuou a cair drasticamente. A situação é tão desesperadora que, em Seul, há temores de que o país seja o primeiro do mundo a desaparecer devido a essa queda demográfica.

Além disso, a própria administração do presidente sul-coreano Yoon Suk-yeol reconheceu que são necessárias medidas drásticas para reverter essa tendência. As babás estrangeiras estão sendo trazidas com a ideia de aliviar a carga do cuidado das crianças pelos pais que trabalham, especialmente em lares com dupla renda. Dessa forma, espera-se incentivar a disposição dos casais a terem filhos e aumentar a taxa de natalidade.

Conforme informou o governo, as babás serão mulheres entre 24 e 38 anos que possuem o Certificado Nacional de Nível II de Certificação de Cuidados do governo filipino e que receberam treinamento. Suas habilidades, segundo o governo, incluem o cuidado de crianças, tarefas domésticas e conhecimento básico da língua coreana.

Além disso, as trabalhadoras usarão um visto E-9, o mesmo que permite o emprego em setores não profissionais no país, e farão parte de um programa piloto restrito aos residentes de Seul. Esse programa de seis meses tem como objetivo fornecer serviços de cuidado infantil acessíveis a lares com crianças menores de 12 anos, famílias com apenas um pai ou mãe e aquelas com vários filhos.

Quem paga a conta

A falta de creches acessíveis é uma das principais preocupações entre os pais que trabalham. Por isso, a nova medida suscita uma pergunta: quem vai pagar as babás? Segundo o governo de Seul, contratar uma babá estrangeira durante oito horas por dia poderá custar aos lares cerca de 2,38 milhões de wones por mês, quase metade da renda mensal média das famílias coreanas.

Isso gerou muitas dúvidas sobre a acessibilidade do programa para as famílias coreanas comuns. “Estamos vendo reclamações sobre o custo das empregadas domésticas estrangeiras filipinas”, disse You Hye-mi, secretária principal do presidente, em uma recente entrevista ao jornal The Korea Herald. “Portanto, estamos tentando explorar maneiras de mitigar a carga que isso representa para um lar individual ao contratá-las”, declarou.

A polêmica do salário mínimo

Além disso, o programa também enfrentou críticas de ativistas trabalhistas e grupos de direitos dos imigrantes. Isso ocorreu em 2023, quando o prefeito de Seul, Oh Se-hoon, propôs contratar babás estrangeiras e pagar-lhes aproximadamente 1 milhão de wons por mês, valor que é significativamente inferior ao salário mínimo na Coreia do Sul.

Não é só isso. O deputado Cho Jung-hun também propôs um projeto de lei que excluiria as empregadas domésticas imigrantes do requisito da lei do salário mínimo, argumentando que os salários dessas trabalhadoras deveriam estar em conformidade não com as leis da Coreia, mas com as de seus países de origem. Essa proposta foi muito criticada por organizações de direitos humanos, que afirmam que isso viola os direitos dos trabalhadores estrangeiros e as normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De qualquer forma, será essencial alguma medida que funcione para melhorar a taxa de natalidade do país. O número de lares com dupla renda na Coreia do Sul vem aumentando de forma constante, chegando a 5,82 milhões em 2021. O problema é que muitas mulheres se veem forçadas a abandonar a força de trabalho devido à responsabilidade do cuidado das crianças. Por causa disso, muitas optam por não ter filhos.

Esse texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagem | Pexels, Pexels

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