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Há 10 anos, lançamos uma sonda a um asteróide para recolher amostras; as análises revelaram três elementos chave para a vida

As amostras de Ryugu se tornaram uma cápsula do tempo do Sistema Solar

Imagem: Nature Astronomy (2024)
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Em 2020, a missão japonesa Hayabusa 2 se tornou a primeira da história a trazer uma quantidade significativa de amostras de um asteroide para o nosso planeta — o asteroide Ryugu. Aqueles restos nos trouxeram informações importantes sobre os primórdios do Sistema Solar. E, agora, descobrimos que eles continham os elementos básicos para o surgimento da vida na Terra.

Publicado em outubro na Nature, um novo estudo, escrito por uma equipe internacional de pesquisadores, anunciou a descoberta de evidências que confirmam que os asteroides forneceram os compostos necessários para o início da vida na Terra.

O material analisado demonstra que Ryugu e asteroides semelhantes são compostos não apenas por elementos e compostos orgânicos, mas também por substâncias que estão em sua forma hidratada e que poderiam ter servido como blocos de construção para a vida na Terra.

Entendendo melhor

Em 2014, a agência espacial japonesa JAXA lançou um foguete que transportava uma sonda espacial chamada Hayabusa 2, destinada a Ryugu, um asteroide do tipo C que possui aproximadamente a mesma órbita ao redor do Sol que a Terra.

Uma vez que chegou ao seu destino, a sonda coletou amostras da superfície, além de outros fragmentos de poeira resultantes de colisões, e retornou à Terra em 2020. Desde então, essas amostras têm sido objeto de estudo para aprendermos sobre o asteroide e sua história.

O trabalho anterior

Um trabalho de fevereiro deste ano, realizado por pesquisadores da Universidade de Tohoku, detectou a presença de respingos de material fundido nas amostras que a Hayabusa 2 coletou da superfície de Ryugu. Tratavam-se de cicatrizes microscópicas resultantes do impacto de partículas de outros corpos celestes.

Aquele estudo sugeria, pela primeira vez, que o asteroide foi bombardeado por poeira que se desprendeu de um cometa em uma região próxima à Terra. Em seguida, ao analisar o material fundido com tomografia computadorizada em 3D, os cientistas encontraram silicatos hidratados misturados com um material carbonoso que descreveram como "matéria orgânica primitiva". Em outras palavras, a descoberta suportava a teoria de que o material dos cometas, rico em matéria orgânica, foi transportado para próximo da Terra a partir do Sistema Solar exterior.

A nova descoberta de "vida"

No novo estudo recentemente publicado, a equipe de pesquisa examinou uma das amostras de colisão de Ryugu em busca de evidências de que os asteroides são uma fonte de muitos dos compostos necessários para a vida na Terra. O trabalho consistiu em colocar grãos de material de Ryugu em uma câmara selada a vácuo, o que permitiu o uso de um microscópio espectral em um ambiente hermético.

As amostras foram colocadas em pratos de safira para serem estudadas utilizando comprimentos de onda além do espectro visível, e os pratos foram posicionados sobre espelhos recobertos de ouro polido para evitar contaminação.

Resultados

Por meio da espectrometria de raios X e de outras ferramentas de inspeção, foram encontradas amostras de magnésio hidratado, amônia e fósforo. Surpreendentemente, as descobertas mostram que asteroides como Ryugu são compostos não apenas por elementos e compostos orgânicos, mas também por substâncias que estão em sua forma hidratada, os mesmos que poderiam ter servido como blocos de construção para a vida na Terra.

Como os cientistas explicam no estudo, a descoberta demonstra que os grãos em que estavam encontrados se originaram no espaço profundo, para além de Júpiter. De fato, se tivessem se formado mais perto do Sol, teriam evaporado. A equipe também destaca que encontrar amônia é particularmente importante, pois essa molécula pode fornecer tanto hidrogênio quanto nitrogênio quando se decompõe.

Com essas amostras, agora podemos reconstruir, pouco a pouco, eventos que moldaram o ambiente interplanetário do Sistema Solar, bem como os segredos sobre sua formação.

Texto traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagem | Nature Astronomy (2024)

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