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Conclave à vista: após a morte de Francisco, Igreja entra em nova era e prepara escolha do próximo Papa

Fumaça branca, casas de apostas sobre o novo Papa

Casas de Apostas no Conclave. Imagem: Salvem a Liturgia
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A morte do Papa Francisco nesta segunda-feira (21) marca o fim de um dos pontificados mais simbólicos da era contemporânea da Igreja Católica. Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta da história, Jorge Mario Bergoglio deixa como legado um papado pautado pelo diálogo, pela simplicidade e pelo olhar atento aos excluídos. Com sua partida, a Igreja entra no período conhecido como sede vacante — quando a cadeira de Jorge está oficialmente vazia — e dá início a um dos momentos mais solenes do catolicismo: o conclave.

A expectativa é de que o processo de escolha do novo Papa se inicie entre os dias 6 e 11 de maio, respeitando o prazo de 15 a 20 dias após a morte do pontífice. Até lá, o Vaticano se organiza com reuniões preparatórias que, além de tratar de questões práticas, também são espaço para articulações políticas e espirituais entre os cardeais eleitores.

O que é o conclave?

O conclave é a eleição mais tradicional e secreta do mundo. Desde 1379, somente os cardeais do Colégio Cardinalício com menos de 80 anos podem votar. Hoje, são 135 eleitores, representantes dos cinco continentes, reunidos em Roma para decidir os rumos da maior instituição religiosa do planeta.

A palavra conclave vem do latim cum clavis, ou "com chave", e remete à antiga prática de trancar os cardeais em uma sala até que escolhessem um novo Papa. Essa clausura persiste até hoje: os cardeais são completamente isolados, sem acesso a meios de comunicação ou contato externo.

Essa tradição visa garantir que a escolha seja livre de interferências e lobbies políticos.

As sessões acontecem na Capela Sistina, sob os afrescos de Michelangelo, num cenário de profundo simbolismo. A cada votação, os cardeais escrevem o nome do candidato escolhido em cédulas que são depositadas em um cálice.

O resultado é contado e, caso nenhum nome atinja os dois terços necessários, as cédulas são queimadas com um produto químico que produz fumaça preta. A tão esperada fumaça branca sinaliza que um novo Papa foi eleito.

Cappella Sistina Ceiling Capela Sistina, localizada no Palácio Apostólico no Vaticano. Imagem: Wikipédia

As casas de apostas e o “mercado da fé”

Mesmo com o tom cerimonial e espiritual do conclave, o mundo exterior acompanha o processo com curiosidade. Casas de apostas como a OddsChecker, que compara cotações de diferentes sites, criaram um “mercado” em torno do futuro da Igreja. Apostadores do mundo todo indicam Pietro Parolin, de 70 anos, como o nome mais provável.

Papa Francisco e Pietro Pietro Parolin. Imagem: Getty Imagens BBC

Parolin é o atual secretário de Estado do Vaticano, um dos cargos mais poderosos da Cúria Romana. Diplomata de carreira, atuou em missões sensíveis na China, Oriente Médio e Vietnã. É discreto, mas influente, e goza de prestígio entre os setores mais tradicionais da Igreja.

Na segunda colocação, aparece Luis Antonio Tagle, 67 anos, cardeal filipino que representa a ala mais progressista e multicultural do Vaticano. Carismático, defensor dos direitos humanos e próximo dos pobres, Tagle é visto como o “Francisco asiático”. Sua eleição marcaria uma nova virada simbólica: seria o primeiro Papa asiático da história moderna.

Entre os nomes citados também estão o ganês Peter Turkson, o húngaro Peter Erdo e o canadense Marc Ouellet. O italiano Angelo Scola, apesar de cotado, tem mais de 80 anos e não pode votar — mas poderia, tecnicamente, ser eleito.

O volume de apostas na plataforma atingiu US$ 2.902.002, aproximadamente R$ 16,9 milhões.

Apostas para saber quem será o novo papa — Foto: CNN Brasil Apostas para saber quem será o novo papa — Foto: CNN Brasil

Particularmente, não concordo com a presença de apostas nesse contexto — especialmente quando se trata de um processo tão tradicional, espiritual e significativo para milhões de fiéis ao redor do mundo. Transformar a escolha de um líder religioso em objeto de especulação e lucro banaliza um momento que deveria ser de reflexão, respeito e solenidade.

O papel do camerlengo

Durante a sede vacante, a administração do Vaticano passa para o camerlengo. Atualmente, essa função é exercida pelo cardeal Kevin Farrell, que foi o responsável por anunciar oficialmente a morte de Francisco. Ele também cuida dos preparativos logísticos e protocolares do conclave, além de zelar pelos bens da Igreja nesse período transitório.

A força dos brasileiros no Vaticano

O Brasil, país com o maior número de católicos do mundo, terá um peso importante na escolha do novo Papa. Sete cardeais brasileiros estão entre os eleitores. Destacam-se nomes como Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo; Orani João Tempesta, do Rio de Janeiro; e Sérgio da Rocha, de Salvador.

Também votam Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e atual referência da Igreja na Amazônia; Paulo Cezar Costa, de Brasília; Jaime Spengler, presidente da CNBB; e João Braz de Aviz, ex-prefeito de uma das congregações mais importantes da Cúria.

Esse grupo expressa a diversidade do catolicismo brasileiro e reforça a presença da América Latina no cenário eclesiástico global, algo que se intensificou durante o pontificado de Francisco.

Um novo tempo para a Igreja?

A morte de um Papa nunca é apenas um evento religioso. É também político, simbólico e, muitas vezes, geracional. Francisco imprimiu à Igreja um estilo mais simples, próximo dos pobres e sensível às dores do mundo contemporâneo.

Sua sucessão será lida não apenas como uma continuidade ou ruptura, mas como um espelho dos desafios atuais da fé católica: pluralidade, secularização, crise vocacional, questões de gênero e o papel da mulher na Igreja.

A escolha do novo pontífice, portanto, não será apenas a de um homem. Será a definição de um novo tempo.

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