Desde que, há alguns meses, a Apple começou a adotar medidas de contenção de gastos relacionadas às suas produções audiovisuais, ficou claro que a companhia teria que abandonar seu projeto de se tornar um grande estúdio capaz de competir com Disney ou Warner. Além disso, os gastos gerados pela Apple TV+ eram excessivos. Mas agora sabemos que a situação vai muito além do que previam os cálculos mais pessimistas: a Apple TV+ perde um bilhão de dólares por ano.
Não é outra Netflix
Em março, em uma entrevista à Variety em comemoração aos seus 25 anos à frente da Netflix, Ted Sarandos respondeu o seguinte ao ser questionado sobre suas impressões a respeito do papel da Apple no streaming: "Não entendo isso além de uma jogada de marketing, mas eles são muito inteligentes. Talvez estejam vendo algo que nós não vemos." As palavras de Sarandos podem ser um blefe ou não, mas está claro quem está na frente: em julho, a Bloomberg mencionava os cortes de custos que a Apple TV+ colocaria em prática, pois o serviço tinha menos visualizações em um mês do que a Netflix em um único dia. O abismo entre as duas concorrentes é indiscutível.
O site The Information publicou um relatório que analisa a situação financeira da plataforma após cinco anos. Nele, afirma-se que a Apple TV+ perde um pouco mais de um bilhão de dólares por ano. O veículo especializado na Apple 9to5Mac comenta o artigo, afirmando que, embora sempre se tenha dito que a plataforma não era lucrativa, nunca tinham surgido números tão concretos e contundentes associados às suas perdas.
Muito investimento, pouca receita
A explicação para esses números impressionantes está no alto custo dos filmes da Apple nos últimos anos. Os caríssimos Napoleão, de Ridley Scott, e Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, foram os primeiros, mas a verdadeira bomba financeira foi Argylle, que arrecadou cerca de 35 milhões de dólares e custou 200. Depois disso, até um produto comercial promissor como Wolfs, estrelado por Brad Pitt e George Clooney, prenunciava problemas — e acabou sendo lançado diretamente na plataforma, com a Apple assumindo perdas que talvez fossem ainda maiores se tivesse ido aos cinemas.
O curioso é que, em termos de imagem, a Apple TV+ vive um excelente momento. Severance, com sua tão aguardada segunda temporada, deixou de ser uma produção de nicho para se tornar uma das séries mais unanimemente aclamadas do momento. Em março, ela pode ter atraído dois milhões de usuários para a plataforma, que se somaram aos 45 milhões que, segundo o The Information, a Apple TV+ teria ao final de 2024. E no horizonte está o retorno de Ted Lasso.
Além disso, os filmes que floparam não significam que a companhia esteja mal. A Apple fechou o ano de 2024 com 124,3 bilhões de dólares em receita, dos quais 36,3 bilhões puderam ser considerados lucro. Apesar de alguns obstáculos, como a queda nas vendas de dispositivos na China, os negócios vão perfeitamente bem para a Apple; mesmo o segmento de assinaturas — que inclui a Apple TV+, mas também Apple Music, App Store, iCloud e Apple Care — teve um ótimo desempenho, crescendo 14% em relação ao ano anterior. Ou seja, más notícias para a Apple TV+, mas que estão longe de abalar o gigante.
Imagem: Apple
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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