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Se a indústria do álcool já não tivesse problemas suficientes, agora ela se deparou com mais um: Ozempic

Um novo estudo traz mais evidências de que o uso da semaglutida está associado a uma redução no consumo de álcool.

O perigo além do álcool, agora a moda é Ozempic. Imagem: Andreas M / Chemist4U
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Os medicamentos da família dos agonistas do hormônio GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1), como Ozempic e Zepbound, revolucionaram o mercado farmacêutico mundial. O sucesso desses remédios, inicialmente desenvolvidos para tratar a diabetes, está diretamente ligado ao seu efeito de perda de peso. No entanto, os impactos desse fenômeno vão além.

Novas evidências

Uma dessas repercussões envolve o consumo de álcool. Um novo estudo encontrou indícios de que a semaglutida, o princípio ativo presente em medicamentos como Ozempic e Wegovy, pode também auxiliar no tratamento da dependência alcoólica.

Um fenômeno social

O Ozempic começou a ganhar popularidade há cerca de dois anos, quando passou a ser utilizado não apenas para controlar os níveis de glicose em pessoas com diabetes tipo 2, mas também como um tratamento para perda de peso, tanto em diabéticos quanto em indivíduos sem a condição.

Paralelamente, diversos estudos clínicos comprovaram esse efeito, levando as agências reguladoras a aprovarem o uso do medicamento para essa finalidade.

Esse sucesso também revelou outros efeitos colaterais associados ao composto – alguns deles positivos.

Foi então que pesquisadores começaram a investigar mais a fundo essas reações, incluindo uma possível redução no consumo de álcool entre pacientes que fazem uso da semaglutida.

Como funciona?

O hormônio GLP-1 desempenha diversas funções no organismo, sendo uma delas a de indicar quando estamos saciados. Por isso, os medicamentos que atuam como análogos dessa substância geram a mesma sensação de saciedade, o que leva a uma redução na ingestão de alimentos e, consequentemente, à perda de peso.

Mas logo alguns usuários perceberam que esse efeito não se limitava à comida, mas também ao consumo de álcool.

Embora o mecanismo exato ainda não esteja totalmente esclarecido, acredita-se que os mesmos processos envolvidos na regulação do apetite possam estar influenciando a relação com as bebidas alcoólicas.

Outro fator a ser considerado é que os medicamentos à base de semaglutida, como o Ozempic, podem causar efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas e vômitos. Isso pode tornar as bebidas alcoólicas – assim como certos alimentos – menos atraentes para quem faz uso desses remédios.

48 participantes

O estudo foi conduzido por meio de um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo. No experimento, os 48 participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu tratamento com semaglutida, enquanto o outro recebeu um placebo.

Os pesquisadores observaram que os efeitos do medicamento foram mais significativos do que os do placebo – ou seja, os participantes que tomaram semaglutida consumiram menos álcool. Embora o número de dias em que eles bebiam não tenha diminuído, o volume de álcool ingerido foi menor.

“Esses dados sugerem o potencial da semaglutida e de medicamentos similares para atender a uma necessidade existente de tratamento para o transtorno do uso de álcool”, explicou Klara Klein, integrante da equipe responsável pelo estudo, em nota à imprensa.

Ela acrescentou que estudos mais amplos são necessários para entender completamente a segurança e a eficácia da semaglutida em pessoas com esse transtorno. No entanto, os primeiros resultados são promissores.

Os detalhes do ensaio foram apresentados em um artigo publicado na revista JAMA Psychiatry.

As pesquisas continuam

O tamanho reduzido da amostra nesse estudo indica que ainda há muito trabalho pela frente.

Para compreender melhor o potencial do Ozempic no combate a dependências e transtornos similares, serão necessários experimentos com um número maior de participantes, além de estudos mais aprofundados sobre os mecanismos biológicos envolvidos e os possíveis riscos desse uso.

Enquanto isso, outros grupos de pesquisa seguem investigando os potenciais benefícios e riscos dessa classe de medicamentos. Um exemplo de benefício ainda em estudo é seu impacto na saúde cardiovascular. Embora já existam indícios positivos nesse contexto, assim como na redução do consumo excessivo de álcool, mais pesquisas são necessárias para entender esses efeitos com maior precisão.

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