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Se o objetivo é salvar uma espécie ameaçada, o Brasil tem uma abordagem disruptiva: humanos devem deixá-la em paz

Mais de 100 anos depois, as antas retornaram ao Rio de Janeiro e isso pode nos ensinar algumas coisas

Imagem | Anna Roberts
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Recentemente, o Instituto Estadual do Meio Ambiente do Rio de Janeiro compartilhou uma centena de fotos e vídeos em que um casal de antas e seu filhote podiam ser vistos caminhando pela densa Mata Atlântica do sudoeste do estado.

Nada disso seria especialmente interessante se não fosse por um pequeno detalhe: o último avistamento de anta na região antes disso foi em 1914, há mais de 100 anos.

O que aconteceu com as antas?

Uma mistura explosiva entre o crescimento populacional descontrolado de todo o eixo urbano que vai de São Paulo ao Rio e a caça intensiva. Isso pressionou as populações de antas até que elas foram classificadas como "ameaçadas de extinção".

Isso, é claro, começou a gerar problemas imprevistos. Se um punhado de lobos pode mudar o curso de um rio em pouco tempo, o que uma espécie que foi chamada de "jardineira da floresta" não pode fazer? As antas desempenharam um papel muito importante e sustentado no equilíbrio da região.

Como elas voltaram?

Em 2008, o Parque Estadual do Cunhambebe foi criado em cerca de 38 mil hectares nas áreas de Angra dos Reis, Rio Claro, Itaguaí e Mangaratiba. A ideia por trás do PEC era criar "um santuário que permita a sobrevivência de espécies-chave para a biodiversidade, garantindo a saúde dos ecossistemas locais".

No fim das contas, a esperança dos técnicos era que, ao garantir certos espaços para que "interações ecológicas fundamentais como dispersão de sementes e fluxo gênico" fizessem seu trabalho, uma alavanca-chave pudesse ser encontrada para garantir o equilíbrio (e resiliência) da Mata Atlântica.

Isso é interessante, porque hoje as reintroduções de grandes animais em ecossistemas específicos são tendência. E os resultados do Parque Estadual Cunhambebe "reforçam a importância das áreas protegidas".

Em outras palavras, reforça a importância de construir abrigos, de apostar em ecossistemas sólidos e vivos, de criar espaços onde a natureza possa se desenvolver sem as pressões do mundo humano. Às vezes, isso é o suficiente para obter bons resultados. O Brasil é o exemplo.

O problema é que esse tipo de intervenção deve ser feito com muito cuidado. Sabemos que as espécies têm grande potencial para recuperar ecossistemas, mas nada impede que esse potencial trabalhe contra elas.

Imagem | Anna Roberts

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