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Dieta forçada: crise está deixando a Suécia sem aquele docinho depois do almoço de sábado

Em um país onde os doces são quase uma religião, racionar as guloseimas é quase uma crise de Estado.

Doces e dietas na Suécia - Imagem | Hoilnawoms
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Recentemente, a Suécia avançou para pôr fim a uma velha tradição: os casamentos entre primos. No entanto, há uma coisa pela qual o país não abre mão, e isso acontece todo sábado. Em qualquer lugar do país, é comum ver grupos de famílias ou jovens entrando e saindo de lojas e shoppings com uma bolsa.

Dentro delas, doces e balas para saborear como se não houvesse amanhã. Sim, os sábados são quase uma religião, ou lördagsgodis, e é o dia de se empanturrar de açúcar. O problema é que eles estão literalmente ficando sem esses doces.

Não sem meu doce

Sim, acontece que a Suécia é um país conhecido pelo seu amor por doces, onde quase podemos dizer que são uma religião. Por isso, ninguém entende muito bem o que está acontecendo.

O país enfrenta uma crise sem precedentes: uma escassez de guloseimas devido a um fenômeno viral no TikTok, que aumentou a demanda global, especialmente nos Estados Unidos e na Coreia do Sul, as duas nações que mais abraçaram o fenômeno, mas também em outros países escandinavos.

Um "acidente" que colocou em xeque a mãe de todas as tradições do país, e provavelmente uma das mais profundamente enraizadas na cultura sueca: o lördagsgodis.

O sábado dos doces

Introduzida na década de 50 pelas autoridades suecas como uma medida para reduzir as cáries dentárias, a prática do lördagsgodis consiste em algo bem simples: desfrutar de doces, mas somente uma vez por semana (preferencialmente no sábado).

Esse conceito reflete o que é chamado de espírito de lagom, essa espécie de filosofia nacional que promove o equilíbrio e a moderação: aproveitar, mas na medida certa.

Para termos uma ideia dos volumes que giram em torno da tradição do "açúcar", as famílias suecas consomem, em média, mais de um quilo de guloseimas em uma única noite, consolidando essa tradição como uma parte essencial da identidade nacional.

Suécia, temos um problema

Parece que a loucura pelos doces suecos começou quando Marygrace Graves, uma TikToker americana, compartilhou sua experiência na BonBon, uma loja de doces suecos em Brooklyn. O vídeo sobre o conceito de pick’n’mix (escolher e misturar) se tornou monstruosamente viral, acumulando milhões de visualizações em pouco tempo e popularizando termos como "candy salad" nos Estados Unidos.

Um caldo de cultivo que, em pouco tempo, desencadeou longas filas e uma demanda sem precedentes, uma onde, dos Estados Unidos, passou-se para a Coreia do Sul, e de ambas para outros países vizinhos da Suécia.

Impacto na indústria sueca

A alta e desmesurada demanda global, combinada com a tradição sueca das férias de verão, onde o fenômeno começou a se espalhar para além das fronteiras, começou a complicar o fornecimento no país.

De fato, empresas como a Bubs, uma das principais fabricantes de guloseimas, ficaram sem estoque depois de vender toda a sua produção durante o verão.

Segundo Niclas Arnelin, diretor da Orkla, fabricante da Bubs, a companhia teve que até reduzir a variedade de produtos para priorizar a produção de suas três linhas mais populares.

A situação se agravou tanto que, em toda a Suécia, as lojas estão recebendo lotes racionados sob uma política de prioridade nacional, enquanto os consumidores pedem a amigos no exterior para buscar doces por eles. O lördagsgodis, pela primeira vez em sua história, está em risco.

A comunidade sueca no exterior

O fenômeno também pode ser explicado pelo fato de que muitos suecos que um dia decidiram deixar o país sentem essa falta. Para os expatriados escandinavos, o lördagsgodis é muito mais do que um simples hábito; é uma ligação com sua terra natal, como acontece com tantas outras tradições de pessoas que emigraram.

Contaram ao Guardian Jonas e Bronte Aurell, proprietários da ScandiKitchen em Londres, que fundaram sua loja justamente porque sentiam falta dessa tradição. Eles disseram: "Quando você está longe de casa, poder desfrutar de algo tão típico como os doces se torna muito significativo".

Um desafio logístico e cultural

Há algumas semanas, no final do verão, a Suécia chegou a um limite: o fornecimento de doces foi interrompido por uma pausa de seis semanas que as fábricas devem fazer por lei no país, afetando até mesmo as lojas mais bem abastecidas.

Desde então, em locais icônicos como a ScandiKitchen, a equipe tem lutado para manter organizada sua emblemática seção de pick’n’mix.

Para Freja Haulrik, a subgerente, "Tivemos semanas sem entregas, mas agora estamos retomando os estoques. Embora ainda haja dois alcaçuz muito próximos um do outro. Precisa espaçar mais!", explicou ao meio britânico.

O legado do equilíbrio

Com isso, a inesperada febre pelos doces suecos tem colocado à prova a capacidade do país de atender a uma demanda global sem precedentes, enquanto tenta preservar sua tradição cultural.

O lördagsgodis, como vimos, não é apenas um momento de indulgência, mas um reflexo dessa filosofia sueca do equilíbrio que tanto prega: aproveitar sem excessos, um conceito que parece ter ressoado entre consumidores do mundo todo, com uma popularidade que ultrapassou fronteiras e colocou em xeque o "atrapalhão" dos sábados.

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